domingo, 27 de dezembro de 2009

O Amor É-terno

Esse ano fiz algo que não fazia há pelo menos uns quinze anos: fui à Missa do Galo. Mais especificamente, fui para a Homilia, parte da missa em que o padre faz seu sermão, já que é, ao meu ver, o momento singular do cerimonial.
Foi bom ouví-lo. Pontuou a importância de fazermos dos nossos corações uma manjedoura, para o recebimento do Amor, personificado na imagem de Jesus. Então - pensei - isso vale para todos que estão em busca de amor (e todos nós estamos, acredite) independente de credos. Mas, para isso, é necessário um mínimo de abertura interna, um lugar dentro de nós, para que o amor aconteça.
Pode ser para receber Jesus, o Amor Universal, as vibrações positivas, o que você achar melhor. Desligue-se da forma.
Algumas pessoas dizem: "Amor? Só se for conjugal". Outras: " Amor? Só se for filial". E ainda: "Amor? Só se for parental". É o amor condicionado pela forma de quem quer recebê-lo.
Pensemos, pois, no Amor Incondicional.
É simples.
Abra-se, ligue-se e receba.
A todos, o Amor.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Amor e Paz.

É interessante perceber que algumas coisas que as sempre ditas nem sempre são sentidas. O nosso racional bem sabe que na verdade Natal é uma data especial, pois se comemora o nascimento de Jesus ( e não do Papai Noel para os mais desavisados), tempo de amor, paz, compreensão...
Mas todo ano é a mesma coisa: ruas quentes, lojas cheias, e ao invés do clima de paz e amor, o que passamos é um calor daqueles e um empurra empurra, acompanhado de muita ansiedade para achar os presentes certos e é claro, pouca paciência e gentileza.
Meu Deus! Como caímos em armadilhas de forma automática sem nos darmos conta? O quanto pode ser insidiosa a força negativa que mesmo em uma data tão sublime, encontra brechas em nossas fraquezas, como a vaidade e o consumismo para se infiltrar e plantar uma semente inversa no seio do nosso coração, local que deve estar reservado ao renascimento do Amor em todos nós.
Pensemos nisso.
Feliz Natal para todos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009




















Este bicho vive desde o tempo dos dinossauros. Tem pêlo de urso, bico e pés de patos, rabo parecido, em forma, com o do castor. Põe ovos do tamanho de uvas e nada debaixo d'água, onde fica sua toca. A fêmea produz leite para os filhotes, mas não tem mama, de modo que o leite escorre pelos pêlos e os filhotes bebem. Absolutamente singular!
Causa estranhamento, quiçá rejeição, por parte daqueles que não admitem que, no fundo d'água, no fundo d'alma, todo mundo tem um pouco de ornitorrinco dentro de si.
E o nosso é amarelo, viu?


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Vou de táxi.

Tenho andado muito de táxi estes dias, e posso dizer que na maior parte das vezes em que me aventuro a conversar com os taxistas tem inicio um interminável rosário de reclamações e problemas pessoais que são atirados sobre o meu colo no banco de trás. Não sei se isso acontece com todos, ou se e um caso particular meu que devo ostentar na testa um letreiro escrito: “psicóloga”. Na maior parte das vezes eu costumo ser paga para ouvir problemas, mas netas ocasiões eu tenho pagado para ouvi-los. Tudo bem levo na esportiva.
Mas aconteceu que dia desses, entrei em um taxi que era dirigido por uma mulher, achei um tanto interessante, pois foi a primeira vez que isso aconteceu, e lá fomos nós. Com apenas alguns metros de corrida eu não podia acreditar no que estava ouvindo, ela me disse: “Nossa! Você já viu como estão bonitas as mangueiras? As mangas estão tão rosas, quase maduras!” “Essa nossa cidade é tão bonita.” “Olha! Uma jaqueira carregada, os passarinhos devem adorar quando cai uma no meio do mato.” “Por aqui neste canteiro costumam brotar umas flores lindas”.
E ao passar pela praia observando as esculturas de arei disse: Não sei por que esse pessoal só faz essas mulheres de biquíni... Seria tão lindo ver cenas de crianças brincando, animais...
Lá para as tantas não pude me conter e lhe disse como estava achando maravilhoso perceber que apesar do trânsito, ela era incapaz de fazer uma das costumeiras reclamações de taxistas e ela concluiu: “Com tantas coisas boas para olhar porque eu tenho que escolher justo as ruins?”.
Peguei o cartão dela, para quem quiser posso passar o telefone.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Peço-lhe que tente ter amor pelas próprias perguntas, como quartos fechados e como livros escritos em uma língua estrangeira. Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las.
(...)
Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, em um belo dia, sem perceber, a viver as respostas".

(R.M.Rilke, in: "Cartas a um jovem poeta", p.43)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A luz interior e o apagão da zona sul.

Estou vivendo nas derradeiraqs 24horas o apagão parcial de alguns bairros da zona sul, que por obra do destino emgloba a minha residência. Fazer o que?
Pois é isso mesmo, fazer o que quando 8 horas já está tudo escuro e nada de tv, computador e nada de livros, pois a única iluminaçao é a de velas? Percebi que sem ter o que causar distração o ser humano é imediatamente compelido a reflexão, a estar consigo mjesmo. Ainda que haja alguém ao lado, as conversas que surgem são imediatamente mais introspectivas. Para alguns esta situação pode se tornar bastante incômoda, pois fogem a qualquer custo de tudo que possa fazê-los pensar na vida, são aqueles que quando chegam em casa ligam imediatamente a tv ou o computador para que de forma alguma a voz interior possa ter forças para emergir, existe o medo do que ela possa nos contar a nosso respeito...
Assim, no escuro tecnológico, passa a existir a condição de ver brilhar a luz interior, de olhar para dentro, já que fora tudo se cala.
Enfim, dentro de toda experiência existe uma oportunidade.
Vizinhos, vamos aproveitar!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Apagão

Guardadas as importantíssimas questões sócio-econômicas que cercam a temática, estive pensando em um nível bem mais abstrato do fenômeno do apagão.
Após noticiários que apontam para o fato de nosso país não ter outras fontes energéticas geradoras de eletricidade, bem como incontáveis demonstrações felizes de usinas de captação de energia eólica e solar nos EUA, chegando até a tão controvertida usina nuclear (e como vai a usina de Angra mesmo?), fiquei com a seguinte impressão: como é realmente complexo esperar que uma só fonte possa cobrir, sem falhas, toda a demanda de um país.
Transpondo tal observação para o plano subjetivo, ficou assim: o que fazer quando se deposita todas as expectativas em um âmbito da vida e este falha? Sim, pois existem muitas pessoas que colocam tudo de si em uma só coisa, seja num relacionamento, seja num trabalho e ficam sujeitas a um verdadeiro "apagão" (colapso) quando algo não sai bem como o planejado.
A força das águas em muito me lembrou o aspecto econômico/dinâmico da estruturação psíquica.
O afluxo do inconsciente necessita do ego como estrutura mediadora entre o que desejamos e o que efetivamente podemos realizar dentro da realidade. Cada instância da vida humana tem sua razão de ser, sua especificidade.
De modo que temos mesmo é de diversificar nossa produção, apostar com criatividade.
A aquisição de outros meios para obtenção de realizações é parte importante desse processo subjetivo.
Otimização dos recursos externos e internos: assunto da pauta de hoje.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Cada dia como se fosse o ultimo II

Para viver é importante ter objetivos.
Mas A Vida em grande parte é tudo aquilo que acontece antes de chegarmos aos nossos objetivos, e só poderemos encontrar felicidade se amarmos tanto o caminho quanto a chegada. Caminhemos sempre.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Luz, Paz e Amor

Filho,
Eu também te amo maior que esse prédio.
Feliz aniversário.
"Viver cada dia como se fosse o último"

O entendimento mais comum dessa "máxima" recai sobre o sentido de viver cada dia com tamanha intensidade que cada minuto seria plenamente aproveitado.
Pois bem, a frase supracitada surgiu em minha consciência de súbito, hoje à tarde e pude, então, contemplá-la com outros olhos.
Assim, cheguei ao pensamento de que quero mesmo poder viver cada dia como se fosse o último, desde que isso seja entendido como um viver com a consciência de dever cumprido de uma vida. Já pensou?
Poder viver o hoje com a conquista de ter cumprido todo o percurso possível? Viver o presente sem lançar-me ao amanhã, visto que este, agora, é quem se encarrega de conduzir-me, e não eu a ele, como comumente fazemos ao planejar e antecipar "amanhãs".
Viver o hoje como se fosse o último dia e saber, ao acordar no amanhã, que ainda assim existe sentido para ser para além do que individualmente realizei...



quarta-feira, 4 de novembro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

No olhar do outro podemos nos perder, mas também nos encontrar.

Jung colocou o processo de individuação como meta do desenvolvimento psíquico, um caminho que tem começo mas não um fim, até o ultimo suspiro ele pode estar em andamento. O processo de individuação é erroneamente confundido com algo individualista e isolado, significa voltar-se mais para o si mesmo (Self), conhece-se e descobrir-se tanto em aptidões e qualidades quanto em imperfeições a serem aprimoradas, deixando que revelemos a nós e ao mundo quem realmente somos e a que viemos. Mas o mergulho no si mesmo só pode se dar com o encontro com o outro. Sem o outro não temos como penetrar em nós mesmos, a partir de nossas relações e reações com o próximo é que nos revelamos.
De fato o olhar alheio pode escravizar, quando queremos atender as expectativas ditadas por alguém ou pela mídia, sociedade e etc, no anseio de ser amado a todo custo, o que acaba bloqueando a ponte para o Self. Mas o olhar do outro pode nos dar a possibilidade de encarar nosso próprio reflexo, e os oçhos que refletem não são os olhos frios e distantes, são justamente os olhos mais próximos, mais amados, mais geradores de atritos e afetos, estes podem ser a ponte para dentro de nós mesmos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Culpa e castigo

Hoje chegou aos meus ouvidos o fato de que uma pessoa virou-se para a outra e a culpou-a por certa (ou errada) situação que estava passando na vida. A segunda pessoa apenas ficou em silencio. Ouvir aquilo deveria ser um castigo...
É incrível como mesmo pessoas que racionalmente sabem que são elas próprias as responsáveis por suas colheitas, em momentos de angústia voltem aos velhos padrões de encontrar alguém em quem depositar o peso das suas escolhas erradas. A responsabilidade é às vezes um fardo muito grande para carregar sozinho. Mas o mais incrível é que sem ela não se anda.

domingo, 25 de outubro de 2009

Divina inspiração

(Conversa entre mães em aniversário infantil)

"Minha filha, dia desses, chegou em casa, angustiada, perguntando quando eu ia morrer, já que ouviu um papo de morte da avó de um coleguinha na escola" - Disse uma delas.

"E o que você responde numa hora dessas?" - Perguntou a outra, já aflita.

"Ah, simples. Disse que eu só iria morrer quando parasse de viver" - Respondeu a primeira.

Moral da história: se você, leitor, admira algum filósofo é porque não teve a oportunidade de conhecer a mãe dele.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Aprimoramento

Observando a natureza e buscando conhecimento, entendi, um pouco, do como é bom saber-me última em algumas situações. Porque a vida não é tão linear assim, e o lugar também depende do observador.
Então, venho aprendendo com quem vai na frente, a fim de ser uma pessoa mais aperfeiçoada quando chegar a minha vez... de dizer, de aparecer, de efetivamente somar.
Posso, assim, entender aquele outro, que sempre quer ser o primeiro a se colocar, como uma pessoa generosa, pois, abrindo mão da possibilidade de manifestar-se posteriormente, dá-me a oportunidade de burilar o que ele diz e incrementar meu raciocínio.
Tudo tem sua serventia.
Eu já quis, muitas vezes, ser a primeira, como a semente que traz a potencialidade no gérmem de sua manifestação.
Eu já quis ser-mente.
Hoje em dia, meu tempo é outro.
Eu quero mesmo é ser flor.




"E um vaga-lume lanterneiro
que riscou um psiu de luz"

Guimarães Rosa
Eco
Escrever, aqui e acolá, é compartilhar com o outro do que penso e também ratificar, organizar e esclarecer-me, pois falo primeiro para mim mesma e, às vezes, reverbero no outro.
Quando chega aí, é eco de si, dádiva, gracejo n'alma.
Quando chega aqui, aquiessência de ser,
Aqui, essência de ser.

domingo, 18 de outubro de 2009

Os limites de cada um.

Limites. Esta semana que passou eles se apresentaram em diversos matizes, os meus, os dos outros e os nosso.
Limites que temos que dar, limites que temos que superar e limites que temos que respeitar. E todos não são fáceis de estabelecer e colocar em prática. E pensando a respeito do assunto descobri que ele está estreitamente ligado ao amor, amor ao próximo e amor a si mesmo.
Existem limites que precisam ser construídos:
As pessoas que facilmente se deixam invadir pelos outros costumam invadir o limite alheio. Abrem mão de existirem enquanto ser e negam ao outro este direito acusando-o de negligencia e caminhando no sentido oposto ao processo de individuação.
Estabelecer limites aos filhos é uma questão de amor, porque da muito trabalho e nos expõe a reclamações e o difícil manejo da rejeição, do não ser amado por alguns momentos, e em nome do desejo de ser amado, falta o amor a criança em formação, que precisa que tenhamos resistência para dar o parâmetro. E quais são mesmo os nossos parâmetros??? Ah! Temos que descobri-los quase que diariamente.
Existem os limites que precisam ser superados:
As pessoas que apontam os limites alheios a serem superados como fraquezas, têm dificuldade de se colocar no lugar do outro e não obstante cuidam pouco de enxergar e empreender suas próprias superações.
Para nos colocarmos no lugar de compreender o limite alheio, basta nos lembrarmos de alguma passagem em nossas vidas as quais pareciam banalidades para os outros, mas para nós eram verdadeiros muros de Berlim a serem demolidos, coisas como:nadar, dirigir, andar de bicicleta, pegar um avião, amar, se doar, forças para recomeçar... Mas apenas compreender o limite do outro não é sinônimo de amor, amor mesmo é ajudá-los a superá-los, e deixarmos que quem possa nos ajude a superar os nossos também.

domingo, 11 de outubro de 2009

Pensando em Amor.

Estes dias tenho ouvido bastante as pessoas falarem a respeito do Amor. Na verdade é muito comum as pessoas falarem em Amor. Juram que o desejam, lamentam que não o possuam, afirmam que estão amando, dizem que não acreditam nele, que o temem e etc.
Mas quando procuramos Amor, desejamos e pensamos em algo mais sublime, absoluto, puro e Instintivamente o procuramos, pois algo nos diz que precisamos dele para viver. Mas quase sempre o procuramos nas pessoas.
Porém o ser humano, justo por ser humano, ainda não é puro, e o amor pode surgir em meio a toda uma gama de sentimentos controversos como: ciúme, possessividade, carência e ser confundido com estes. Isto pode levar algumas pessoas a amargamente dizerem que não acreditam no Amor, quando na verdade no que não acreditam é na capacidade do ser humano de amar. E assim se fecham. E o Amor passa a ser vinculado ao sofrimento e a desilusão. Será? O Amor em si não fere, apenas as pessoas traem umas as outras, por falta e não por excesso de amor. O verdadeiro Amor inspira o compromisso e o respeito. O Amor verdadeiro impele a doação e não o consumo do outro.
Talvez a origem de tantas decepções seja o fato acreditar no Amor como algo gerado e pertencente unicamente à natureza humana, e que, por conseguinte faz com que seja exigido do outro a doação de Amor suficiente para nos manter vivos. Damos, mas sempre querendo em troca, e o verdadeiro Amor não é moeda.
O Amor em si, como sentimento que move o mundo é algo que transcende todas as nossas fraquezas e limitações, sua fonte é outra. O Amor se assemelha ao mito da caverna de Platão,se aproxima da noção de arquétipo, daquilo que é perfeito e do qual por mais que nos aproximemos ainda por sermos humanos não somos capazes de captar e refletir a sua totalidade divina e perfeita. Somos como espelhos que quanto mais embaçados por vícios e sentimentos torpes, menos seremos capazes de refletir-lo. Desejamos muitas vezes receber Amor, mas nem todos se preocupam em preparar-se para transmitir Amor.
Quem não acredita que na vida exista algo que transcenda a nossa limitada compreensão, ainda não poderá vislumbrar a realidade do Amor. Quando vislumbramos sua fonte real e inesgotável, estamos prontos para compreender a oração de São Francisco “é dando que se recebe”. A quantidade de amor que se tem não é a que se recebe, mas a que se é capaz de captar e transmitir. Logo nos libertamos, pois assim fica claro que o Amor não é posse, não possuímos o Amor e nem mesmo a pessoa amada, o Amor é algo que vai muito além da nossa van imaginação, é ele quem nos possui, quando a ele nos entregamos.
Em suma, o amor é sublime e simples, mas algumas vezes a nossa complicação não nos deixa amar o que há.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Inteligências Múltiplas ou Variedade de Equívocos

Muito se tem falado em inteligência múltipla.
Aquele aluno não se adapta bem em tal escola por que tem baixa desenvoltura cognitiva, porém, grande inteligência artística, musical. O outro tem uma grande desenvoltura nas aulas de Educação Física, mas é um horror em todas as outras disciplinas. É que ele tem uma grande inteligência físico-motora, um verdadeiro atleta.
Já aquele, coitado, é um excelente aluno, quase um gênio, mas com uma baixíssima inteligência emocional frente à resolução de conflitos com os colegas. Vive se metendo em confusão.
O que dizer dessa novidade de mercado que diz que temos tantas inteligências quanto nossa inteligente capacidade de criá-las?
Que inteligência é uma só.
No entanto, ela aparece, enquanto fenômeno, de muitas maneiras.
Uma breve viagem no tempo pode nos propiciar uma constatação inequívoca do que acabo de dizer. Vejamos, portanto, Leonardo da Vinci. Pintor, escultor, arquiteto, matemático, visionário.
Quantos advogados, poetas, filósofos, médicos, tudo em uma só pessoa, já existiam há centenas de anos? Alguém falava em inteligências múltiplas?
Acontece que vivemos ainda sob a propagação dos efeitos positivistas em nossa cultura. O homem ainda é compreendido de forma segmentada, tal qual o mecanicismo industrial que faz de um automóvel, uma junção de peças.
Então, movidos por uma espécie de pseudo-caridade, susbtituem segregação social por segmentação de inteligências e levantam a bandeira da inclusão e democratização do ensino. Mas na hora do vestibular...
Tudo bem, vamos dividir, desde que ninguém saia do domínio de quem efetivamente manda...
Por um acaso, quando sou convidado para uma festa e como uma fatia de bolo, passo, automaticamente, à condição de aniversariante?
Desculpem-me, mas, para esse engodo, eu não vou bater palminha.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Titanic

Estive pensando no quanto a análise redutiva dos sonhos, realizada por Freud, pode ser útil para alguns casos clínicos. Sobretudo quando nos deparamos com sujeitos cujo ego está excessivamente investido, ou seja, pessoas que se acham "donas do mundo", da "verdade".
É que a redução proposta pelo pensamento freudiano aguça o senso crítico, reduzindo o sujeito aos conflitos primordiais que acompanham a humanidade há muito tempo.
Assim, saber que toda aquela construção fantástica do inconsciente, produzida, por sua vez, por aquela pessoa que igualmente se acha fantástica, retrata um conflito infantil vivido com o pai, pode ser de grande utilidade terapêutica, uma vez que propicia uma retificação na economia da dinâmica psíquica.
Então, a redução egóica pode levar a um incremento energético rumo ao Self, esse, sim, morada da singularidade e do encontro profundo consigo próprio.
Para tanto, valho-me da cena de Leonardo di Caprio no filme Titanic, quando seu personagem dizia de braços abertos, meio pássaro, meio Jesus na Cruz: "I'm the king of the world".
Pois é, não foi à toa que o navio afundou...

sábado, 26 de setembro de 2009

Pra quê desse por quê? (continuando tema da postagem anterior, realizada por Tatiana)
Acredito que, quando abordamos um mesmo assunto de diferentes pontos de vista, para além de aparentes antagonismos, estamos verdadeiramente contribuindo para a pluralidade de compreensões possíveis, o que, consequentemente, pode vir a atender um número maior de pessoas, em sua diversidade inerente à grandiosidade do que é humano.
Sendo assim, quero falar um pouquinho do que penso acerca da interessantíssima postagem feita pela amiga Tatiana, especificamente, dentro dessa dinâmica do por quê e do para quê, da qual todos nós nos valemos constantemente em nossa caminhada no mundo.
Vejo que, algumas vezes, o não entendimento de determinadas situações da vida surge menos pela ausência de respostas compreensíveis e muito mais pela dificuldade em se fazer a pergunta certa.
Então, existem momentos em que nos perguntamos o por quê de algum acontecimento e ficamos sujeitos à não obtenção de resposta satisfatória, ou o que é pior, presos ao passado, usando a pergunta só para alimentar a indignação sofrida. Diante de tal fato, é importante que escutemos nosso espírito e busquemos atendê-lo de forma mais adequada. É aí que surge a possibilidade da emergência de um para quê.
Só mesmo quando entendemos o para quê, que circunscreve nossa realidade mais prática, pragmática, da evolução humana, é que chegamos à possibilidade de questionarmos a respeito do verdadeiro por quê, sem vitimizações. E, quanto a isso, sinceramente, precisamos de ter humildade frente às nossas possibilidades no momento, entendendo que é muito melhor um esclarecimento simples do que uma ignorância sofisticada, dessas que dão o passo maior que a perna só para exercitar uma suposta inteligência.
Portanto, apenas como um outro modo de ver o mesmo assunto, podemos também compreender que não há divisão entre vida espiritual e razão, estando o pensamento quântico dentro de uma Razão Superior, esta sim, francamente acima do que comumente chamamos de racional, ou ainda, estritamente lógico, como bem pontuou minha parceira do blog.
Essa Razão, cunhada intencionalmente com letra maiúscula, engloba o para quê e o por quê como um Pai que, entendendo a diversidade que compõe seus filhos, trata-os dentro da unidade de seu amor infinito.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Por que e para que.


Uma vez, quando examinava o porquê de um dado acontecimento, a pessoa com quem eu conversava me disse uma coisa muito valiosa. “Na verdade a pergunta que você deve fazer não é o porquê, mas sim o para quê.” Foi algo realmente grandioso. Quando nos lamentamos, nos colocamos no lugar de vitima, é muito comum nos perguntarmos constantemente porque algo aconteceu. E ficamos horas neste questionamento que se assemelha a um labirinto.
Não estou querendo tirar a importância do por que. Quem me conhece sabe que sempre procuro buscá-lo. Mas a verdade é que muitas vezes ele não atende ao chamado, pois pertence ao campo do racional, da lógica clássica, daquilo que parece fazer um sentido imediato. Quando ele não vem, significa que a resposta transcende o estritamente racional, remete a um campo onde o que vale é o pensamento quântico, a realidade espiritual, que amplia inimaginavelmente as noções de causa e efeito. E neste momento crucial da angustia podemos encontrar a resposta no “para que”.
O para quê realmente nos tira do lugar de vitima, pois mesmo que racionalmente não tenhamos feito nada de errado para merecermos alguma situação, podemos olhar além. O para que sempre apontará a lição que a vida está nos dando, o caminho para o qual estamos sendo chamados. Poderemos ver com outros olhos o que o mundo nos apresenta coisas que aparentemente não tem uma explicação como, por exemplo: Porque nasci nesta família? Ou melhor: Para que nasci nessa família?
Experimente a troca, você pode se surpreender. Mas antes amplie a sua noção de realidade, permita-se francamente perguntar-se para que você vive, ou poderá não ver aquilo que está na sua frente.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

domingo, 6 de setembro de 2009

Sonhos infantis

Às vezes me surpreende o fato das pessoas no dia a dia falarem pouco a respeito dos sonhos infantis. Creio que este é apenas um sintoma da velha e quase sempre inconsciente idéia de que as “coisas de crianças” não têm importância. Poucos adultos têm tempo e interesse para lidar com a linguagem e a expressão dos próprios filhos. O mundo do adulto se mostra tão complexo e por tantas vezes ameaçador, que a vida de uma criança pode parecer não ser uma vida de verdade. E a criança cresce sem compartilhar o que está acontecendo em seu mundo interior.
Até que um belo dia a criança aparece com algum comportamento estranho, vindo não se sabe bem de onde. Porque afinal, “fulaninho sempre esteve tão bem... e de repente isso!". O isso é o nome do que finalmente pode ter eclodido a partir de um longo tempo de angustia em gestação inconsciente, que poderia ter sido mais prontamente detectado simplesmente por prestar atenção nas brincadeiras cotidianas, conversas, interesses, e principalmente os sonhos. É verdade que muitos sequer julgam sonhos de adultos importantes, mas quando temos ao menos alguma noção de que os sonhos não são apenas meros fenômenos cerebrais, e sim como apontava Jung, o mais eficiente e acessível portal de comunicação com o inconsciente pessoal e coletivo, que nos permite identificar mais facilmente o crescimento de alguma perturbação. E isso sem falar no fato de que o simples ato de contar um sonho já é terapêutico por si, além de acostumar a criança a dar importância aos seus movimentos interiores, o que facilitará o processo de individuação. Quando dermos bom dia para nossos filhos, vamos procurar nos esforçar e perguntar: O que você sonhou hoje? Podemos nos surpreender.

Lua

Lua cheia
Lua que no alto faz-se esfera
Perfeita e branca
Lua que os homens vangloriam-se de ter pisado
Céus... Se ao menos os homens soubessem...
A lua não é sapato
É antes coroa
Determinada a brilhar eternamente
Sobre nossas cabeças.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um pedaço de mim

Dando aula hoje mais uma vez pendei que um pedaço de mim está em tudo o que eu faço. Tudo o que me coloco a fazer inclusive durante a clínica e as aulas está inegavelmente impregnado de mim, e gosto de poder admitir isso. Certamente temos que treinar o não julgamento e a compreensão do que nos é estranho, procurando não ser refratário ao novo. Mas a tal da imparcialidade me parece uma ilusão há muito perdida. Se hoje a física quântica nos mostra que nem as partículas que olhamos são imunes a nossa presença o que dirá de todas as nossas atuações mais efetivas no mundo... Sempre digo a meus alunos que todos os grandes nomes da ciência trouxeram a teoria que trouxeram não exatamente porque fossem portadores de uma verdade inexorável, mas sim porque as pessoas que eram os possibilitaram enxergar aquela parte da historia. Tudo o que ofertamos ao mundo diariamente sempre tem um pedaço de nos. Quando penso a respeito de Jung, um homem sinceramente engajado em suas investigações fantásticas a respeito da psique, não consigo deixar de ver o homem por trás do pensamento, (ele não gostava da palavra teoria). Se Jung antes de ser o Dr. Jung não fosse Carl Gustav, jamais teria escrito o que escreveu, tratado as pessoas como tratou e se tornado a referência que é hoje. Dr. Jung trouxe aos olhos do mundo o que os seus olhos eram capazes de captar e o que a sua alma quis preparar-se para abarcar. E assim somos todos nós, e isso é lindo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O belo

Beleza de fato é uma coisa muito relativa, e, portanto não merece julgamento. Eu diria que a diversidade do conceito de beleza se iguala a diversidade de seres humanos na terra. E quando o assunto é relacionamento, o que torna uma pessoa bela é muito mais do que a simples avaliação plástica.
Portanto creio que se cada um fosse mais fiel a si mesmo, e aos seus próprios conceitos do que é beleza talvez estivéssemos mais felizes, porque estaríamos livres da prisão de barras invisíveis que nos é imposta a todo o momento pela TV, cinema e bancas de jornal, que ditam aos nossos olhos desde crianças o que nos DEVE parecer belo, qualquer opinião que não se encaixe no gosto vigente faz com que o outro pareça estranho e seja motivo de piadas. Nesse tempo de produção em massa de descartáveis não existe lugar para ser único, e aquele que ousa por vezes teme ser discriminado por ser diferente, pensar diferente. A massa costuma temer aqueles que sao fieis a si mesmos, pois eles a colocam frente a frente com as próprias limitações.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Aprendizado

Do mesmo modo
que da alegria
foste ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.

Ferreira Gullar

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Coragem

Sabe aquela gente que pega um acontecimento ruim, estraga o resto do dia e ainda diz que foi o ocorrido que fez tudo sozinho?
Sabe aquela gente que conta felicidade como quem não sabe usar a vírgula e só a coloca quando o fôlego ameaça deixar a existência?
E sabe aquela regrinha de proporção arcaica que diz que o cotidiano torna-se menos enfadonho à medida que a coragem aumenta? Pois é...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O advento da gripe suína: constrangimento e até interiorização!

Amigos, hoje tive um banho da nova etiqueta de comportamento imposta pelos tempos de gripe suína.
Tradicionalmente na escola dos meus filhos hoje e o dia em que antes de subir no para a sala há uma espécie de confraternização no pátio, onde cantam, e em certo ponto alto da cerimônia todos dão as mãos para os amiguinhos mais próximos em sinal de fraternidade. Pois é, hoje não foi assim... Meus caros, cada criança deu a mão para si mesma.
Outro evento: uma pessoa que gosta de ir a missa me contou que na missa de domingo, na tradicional hora em que todos se dão as mãos e desejam a paz de Cristo, ao invés de se darem as mãos a paz de cristo foi desejada com um aceno, com um thauzinho sabem?
E por minha vez, agora quando encontro um amigo ou conhecido, fico alguns segundos parada olhando para a cara da pessoa esperando para ver se existe alguma menção de dar os costumeiros dois beijinhos do carioca, ao qual sou particularmente simpática. Tomei esta precaução depois de desavisadamente ter cumprimentado uma pessoa com dois beijinhos e após o ato, testemunhar em seu rosto a expressão de quem foi mortalmente agredido.
E como se não bastasse depois disso tudo ainda começou a minha peregrinação atrás de vidrinhos de álcool gel! Foram cinco farmácias alopáticas e duas de manipulação.
Ah! E muito cuidado, álcool gel pode ser fatal para os casamentos, no momento em que escrevo esta postagem minha filha acaba de me dizer que com esse negocio de passar gel nas mãos a professora perdeu a aliança que estava há dezoito anos em seu dedo. E não foi desculpa nao gente, tinham muitas criancinhas de testemunha.
Pois é, estou me sentindo como uma pessoa em um país estrangeiro do qual desconheço as regras de boa etiqueta. Tudo bem, eu aprendo e me acostumo

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Tão perto e tão distante...

Estes dias andei conversando a respeito de uma pessoa que mesmo próxima é distante. Para quem não entende como ocorre tal fenômeno, é só pensar nas pessoas que nos rodeiam, pelas quais nutrimos afeição, que podemos ver até com bastante freqüência, e conversar durante um bom tempo e ainda assim sairmos do encontro com a sensação de que não estivemos de fato com a pessoa, como se ela estivesse sempre se colocando atrás de um vidro, ou a uma distancia segura para que não possamos de fato tocá-la. Ainda se pergunta como assim? Bom, para muitas pessoas isso já pode ser o bastante, mas para mim existe uma grande necessidade de conversas profundas, daquelas em que mesmo em doses homeopáticas a pessoa revele espontaneamente um pouco de si, que fale a respeito de seus sentimentos, da vida, experiências importantes e que também deseje perguntar algo a meu respeito, estabelecendo uma ponte entre as almas, permitimos tocar e sermos tocados espiritualmente, permitimos trocar. Assim nos enriquecemos mutuamente e sentimos a energia da vida circular, assim fazemos amigos. Infelizmente o fenômeno “tão perto e tão distante” não acontece apenas em ambientes de trabalho e estudo, acontece dentro das próprias famílias, dentro de casa... E quando isto acontece parece que falta vida e brilho. Acredito que as pessoas que se fecham têm medo, medo de se expor, de se machucar, de serem julgadas... Imagino que algumas pessoas ao lerem esta postagem logo se lembrarão de alguém que se encaixa no fenômeno. Sim, mas precisamos sempre do exercício oposto, e examinar bem se por algum motivo não somos nós mesmo que estamos erigindo um muro de vidro ao nosso redor e pensamos que é o outro. Pense bem...

domingo, 26 de julho de 2009

Terror noturno.

O terror noturno é um fenômeno que acomete algumas crianças durante a noite. As suas principais características são o despertar repentino durante a noite acompanhado de gritos e um grande sentimento de medo e pavor, como se a criança estivesse despertado de um terrível pesadelo. Algumas não conseguem mais dormir, outras, podem voltar a adormecer e no dia seguinte sequer lembrarem-se do ocorrido. E a criança não e a única afetada por este distúrbio misterioso, a família inteira pode sofrer efeitos colaterais, principalmente os pais. Alem do stress provocado pelo sofrimento do filho, grande parte tem seu rendimento profissional ameaçado pelas noites mal dormidas, e não raramente problemas no relacionamento conjugal.
Embora existam algumas teorias psicológicas e biológicas a respeito das causas do terror noturno, a verdade e que sua origem continua envolta em mistério. Na minha concepção de psique humana, que os leitores do blog sabem serem baseadas em C. G. Jung, as crianças acometidas por este distúrbio possuem alguma forma de contato com a sombra existente no inconsciente. Esta sombra pode ser a existente no nível do inconsciente pessoal e, ou, no inconsciente coletivo, o que vai depender da historia da vida de cada criança, seu grau de sensibilidade e etc. O que importa é que à noite a consciência se encontra em estado de repouso, e reina o mundo maior e mais vasto do inconsciente, morada de elementos tanto negativos quanto positivos dos quais não temos conhecimento no estado de vigilia, vem à tona. E quanto mais reprimidos forem os conteúdos negativos da psique, com mais força eles podem se manifestar assim que aparece a oportunidade, e a noite e uma das melhores oportunidades. Principalmente quando o terror noturno se dá pelo contato com os conteúdos da sombra nos limites do inconsciente pessoal, podemos voltar para a investigação dos medos da criança, trazendo gradativamente para a consciência os medos ocultos, o que na maioria das vezes irá requerer a ajuda de um profissional especializado. Mas prestar atenção nos desenhos de uma criança e estimulá-la a expressar o que eventualmente possa ser reconhecido como causa de ansiedade pode ser um bom caminho.
Devo também apontar que quando a família possui algum direcionamento espiritual ou religioso no qual a criança perceba a existência da luz que se sobrepõe as trevas, pode funcionar como um importante apoio para reforçar a psique e a aumentar a capacidade de vencer e, ou, afastar as causas da ansiedade. Como se pode perceber na citação de Jung acima, o estudo da psique não é necessariamente uma ciência que exclua o sagrado. Segundo ele, o rompimento com o sagrado e com o mundo do inconsciente que o carrega, provocam muitos dos problemas psicológicos da atualidade, o que a meu ver pode também incluir o terror noturno.
Nesta postagem estou apenas expondo alguns pontos do meu pensamento a respeito deste assunto, que é um tanto vasto e pode ter vários desdobramentos. Me coloco a disposição dos que desejarem saber mais alguma coisa na qual possa ajudar, é só escrever.

sábado, 25 de julho de 2009

"Conhece a ti mesmo"

Vez ou outra escuto pessoas dizendo que elas fazem análise para se sentir bem e que esse papo de sair da análise pior do que entrou é indício de que a terapia não vai lá bem das pernas.
Nessas horas fico pensando que tipo de concepção é essa e, por vezes, entendo tal perpectiva como um sintoma social contemporâneo.
A propaganda do cartão de crédito diz que felicidade não tem preço. Não?
O que não tem preço, não tem valor. É a desvalorização humana que está em jogo. Para todas as outras coisas, o cartão compra.
E assim, embalado por toda espécie de ilusão, pacientes chegam acreditando que estão alí para obterem prazer, carentes por reforço egóico do tipo: "Você é o máximo, você é lindo". Não sabem, entretanto, que uma das grandes problemáticas atuais é o rotineiro encontro com sujeitos mergulhados até o pescoço no Ego, inflacionados em si mesmos, melindrosos na lida cotidiana, enfim, pessoas que acreditam que o outro (e aí o psicólogo entra na seqüência) deve dizer o que eles querem ouvir no mais íntimo do seu ser.
E o que a análise faz? Desintegra, na base, o castelo de areia de cada um, como quem encontra, na pedra bruta, a preciosidade que nela jaz.
O cogito "conhece a ti mesmo" incluía uma cara de alegre?
Sair do "narcisimo das pequenas causas" dói. E isso inclui, para os que estão ligado em aparências, em sair da sessão "pior" do que entrou mesmo, não só uma, mas muitas, muitas vezes.
Obviamente, que isso não é uma constante, ou seja, não se sai só assim, mas na justa medida em que o ser humano também não é somente sofrimento.
Também há sessões em que o sujeito se diz mais feliz, mas, lembremos, isso não é benevolência do terapeuta. Isso é conquista do paciente.
Então, ficamos combinados: do sintomal ao sinto bem, sinto muito, mas a verdade não usa cílios postiços.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Na inversão insana de valores, as pessoas mais respeitáveis são as mais capazes de despertar inveja.

Estes dias andei pensando que existe outro sentimento semelhante ao ciúme - e tão devastador quanto - que costuma ser equivocada e prazerosamente plantado no coração alheio: a inveja. Conscientemente todos costumam condenar os invejosos, ensinam as crianças a reprimir tal sentimento e as pessoas que o carregam são (com toda razão) temidas como pássaros de mau agouro, portadoras de olho gordo, seca pimenteira e outros adjetivos afins. Mas idiossincraticamente, muitas das pessoas que condenam a inveja gostam de cultivá-la no coração alheio. É como se despertar a inveja dos outros mostrasse um status, confirmasse o merecedor da inveja como um ser superior possuidor de algo que a maioria deseja e não pode ter. Então para despertar a inveja ostenta-se o que tem (na melhor das hipóteses) e o que não se tem. E não se trata apenas da exibição de bens materiais como: casas, carros, contas bancárias, corpos sarados, silicones (seus ou de algum ser humano descartável adquirido na prateleira do mercado das vaidades), mas também de inteligência, bons relacionamentos, sabedoria e etc. Enfim tudo o que se pensa ter-se mais que a maioria dos reles mortais.
Pessoas realmente sábias e felizes não precisam estampar para o mundo inteiro o quanto são alegres e realizadas, elas simplesmente o são porque alem do que é imposto de fora, possuem o que almejaram segundo as suas inclinações internas mais profundas. Pessoas realmente sábias sabem o quanto é nociva a energia gerada pelo olho que inveja, que não se satisfaz enquanto não consumir e arrasar aquilo que acredita não poder ter. Pessoas realmente sábias afastam a inveja ao invés de atraí-la, procurando despertar: amor amizade e admiração sincera.
Por trás do desejo de despertar a inveja está a falta de uma virtude rara e difícil de conquistar: a humildade. Mas esta conversa fica para depois.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Michael ao morrer volta a ser humano.

Pois é, hoje faz uma semana do falecimento de Michael Jackson e só agora me ocorreu comentar o assunto, e o que há de espantoso nisto é justamente o só agora... Creio que com as manchetes de varias revistas dependuradas nas bancas de jornal de todo o mundo, inclusive do meu bairro, comecei a realizar que de fato isto havia acontecido: Michael Jackson morreu! Não que eu fosse uma grande fã, creio que ultimamente muito pelo contrário, mas porque na minha percepção ele já havia se afastado tanto da imagem e dos comportamentos considerados humanos, empenhando-se em não envelhecer, cristalizando-se como um boneco de resina, que no meu inconsciente ele havia perdido a mais humana das capacidades: a de morrer.
Michael para mim foi um Fausto que de bom grado cumpriu o seu contrato com Mefistófeles, dando a vida em troca de jamais envelhecer. Mas paradoxalmente, ao morrer, retornou ao mundo dos humanos, como uma redenção, lembrando a todos que nem sempre foi assim.
De fato foi alçado a símbolo, mas não apenas de símbolo do pop, mas símbolo do arquétipo da sombra que habita no interior de cada um de nós mesmos, e que não deve ser negligenciada, sob o risco de dominar toda a psique, que significa: alma.
A ele só me resta desejar Luz.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Completa Ilusão
Dia desses vi uma propaganda televisiva onde o anunciante estava disposto a vender um carro com o seguinte slogan: "X, o carro que te completa".
Ui! É isso mesmo, é?
Será que alguém acredita que comprando o tal carro irá se sentir pleno, sem falta alguma? Acredito que não. Então, o que será que está por trás disso?
Fiquei pensando se não seria uma espécie de reforço narcísico
pela via do poder de compra, algo como: "se você tem o carro X, então você deve ser o máximo!".
Onde será que foi parar o "simancol"? Será que ele caiu da mala e ficou pela estrada?
Houve épocas em que superego era o representante da lei, da censura interna que cada um carrega dentro de si.
Hoje em dia, o superego é camuflado num eu inflacionado, num eu heróico, num Super Eu.
Ainda bem que ainda existem pessoas que não caem nessa piada torpe e encontram outras vias de administrar suas imperfeições, sem ilusões mercadológicas.
Bom mesmo é andar com o pé no chão.
Para: Sístole e Diástole

Eu, que amo meus duplos,
Irmãos Gêmeos,
Envio,
do coração de uma só,
o meu amor infinito.
Feliz Aniversário
Feliz Aniversário
Big Bang

Estava dirigindo e conversando com duas amigas sobre uma outra pessoa - que não estava ali para se defender - a respeito do enfrentamento dos próprios fantasmas, antes que eles invadam a "casa" de cada um e só dê para fazer filme trash ou terror subjetivo.
Então surgiu o assunto do medo, de como as pessoas evitam o contato consigo próprias em virtude de acreditarem não suportar uma inserção mais íntima na singularidade que compõe a constelação psíquica de cada um.
Daí lembrei de alguns fantasmas pessoais, dos embates travados, por vezes ininterruptamente - no silêncio do dia e na calada da noite - das angústias e contornos possíveis, das agulhas que, de tanto procurar, acabei por encontrar no palheiro das intermináveis incursões internas.
E como sou antiga, da época do cinema com lanterninha, confesso que tal empreitada não teria sido possível sem o anúncio seguro de um guia, um farol, algo ou alguém que lançasse sobre mim ora o meu próprio reflexo, iluminando-me, ora clareando, do alto, um percurso sombrio e funesto encontrado em meu próprio ser.
Embalada por tal perspectiva, deparei-me, por conseguinte, com uma frase do Jung (na obra: "Presente e Futuro"), dessas que só um príncipio da sincronicidade pode dar conta. É assim:

" O medo da psique inconsciente é o obstáculo mais árduo no caminho do autoconhecimento e também no entendimento e abrangência do conhecimento psicológico. Por vezes é tamanho que nem se consegue confessá-lo. Essa questão deveria ser considerada com seriedade por todo homem religioso, pois ela poderia lhe fornecer uma resposta iluminadora." (p.22)

Como metáfora, vou até a teoria do big bang e tiro dela o estrondo. Será necessário chegar ao ponto de se "explodir" para de lá nascer para a vida?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O ciúme só é tempero para quem gosta de vinagre.

Muitas vezes ouso pessoas sentarem extremamente ansiosas no sofá do meu consultório preocupadas com o fato do par não demonstrar sentir ciúmes. Incrédulos eles me ouvem dizer: Que bom isso significa que ele (ela) confia em você!
Aos meus ouvidos, falando além da interpretação clinica, parece um grande paradoxo alguém querer despertar ciúmes em um relacionamento para se sentir mais seguro, já que as bases do ciúme estão calcadas na insegurança... Que tipo de relacionamento algumas pessoas estão cultivando se estão procurando despertar sentimentos torpes naqueles que amam? Que tamanha insegurança se esconde atrás de um desejo como este? E que desejo se esconde atrás de uma insegurança como esta? O ciúme traz sofrimento, porque desejar sofrimento do outro como prova de amor?
As pessoas andam tão carentes de legítima atenção e dedicação, de legítimo amor, que por desconhecimento do que venha a ser uma relação satisfatória, pensam ser esta a única maneira de merecer receber atenção do seu par, como se a sua cotação estivesse sempre ao sabor do mercado, do quanto pode atrair de olhares e assim adquirir valor de posse, sim, porque ciúme não é sinônimo de amor, mas de possessividade.
Ciúme não e como um veneno que usado em poucas doses cura, é mais semelhante a uma semente de erva daninha que cresce e mata a planta.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Novamente o tempo.

O tempo é um grande mestre, e sua grande lição é nos ensinar o que realmente é a paciência.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Para: béns!

Bem é tesouro para quem tem.
À você, nesta data querida,
Muitas felicidades,
Muitos anos de vida.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O hoje o amanhã e a morte.

O ser humano não costuma gostar de pensar na morte, e disto todos sabem. Queremos manter conosco sempre a certeza de que haverá um amanhã , e que neste amanhã eu serei feliz e terei a oportunidade de empreender transformações proteladas eternamente. Mas lá, no amanhã, o futuro nos sorri dourado. O amanhã sempre existirá, é fato. Mas nem para todos. Estes dias como se já não fossem lembranças suficientes da finitude da vida encarnada os desastres de avião ocorridos ambos em circunstâncias tão dramáticas, quando cheguei para dar minha aula na PUC 12:45 me deparei com uma cena que transcendeu a minha imaginação: em frente ao portão mais movimentado da faculdade jazia um corpo coberto por sacos plásticos pretos presos por cones de estacionamento. Um senhor, avô de um aluno havia sido atropelado por volta das 10 horas da manhã por um dos ônibus que fazem ponto final ali. Na calçada o neto chorava. Creio que o que mais me surpreendeu foi o fato de não haverem tantos curiosos, nada de ambulância nem policia próximos ao corpo, era quase nada. As pessoas entravam e saiam aos borbotões como de costume e quando cheguei na sala percebi que a maioria dos meus alunos havia visto o saco preto mas não imaginavam do que se tratava, talvez fosse um buraco no asfalto... E a morte em frete aos portões era quase nada. Talvez tivesse havido alguma manifestação mais emocionada as onze, mas meio dia já era quase nada. É, e a vida continua. Das duas uma, ou estamos muito evoluídos espiritualmente aceitando a transitoriedade da vida como algo passageiro e natural, ou a estamos negado com todas as nossas forças, sem querer ver que nada mesmo garante que teremos um amanhã. É uma pena, pois uma das grandes lembranças que a morte nos traz é a importância de viver o hoje, cada dia como se fosse o último.

domingo, 31 de maio de 2009

Os ingenuos, os inteligentes e os sábios

Quando perguntado se acreditava em Deus, C. G. Jung respondeu “Não, eu sei de Deus”

Ingênuos e bem intencionados são os crêem, pois crer significa dar credito a palavra de outrem a respeito de algo que não se vivenciou. Mas isso nem sempre é o bastante quando as verdadeiras provas da vida batem a porta.
Por outro lado reconheço que são Inteligentes aqueles que ao questionarem as injustiças terrenas confrontam a realidade com a incoerência da imagem de Deus que costuma ser apregoada e facilmente se tornam ateus, mas isso na maioria das vezes não os faz mais felizes e os deixa vulneráveis aos perigos da cegueira causada pela inflação do ego.
Mas os sábios... Ah os sábios... Estes podem ser homens simples ou grandes cientistas, sendo que a estes últimos reverencio o meu profundo respeito e admiração, pois mesmo munidos do mais avançado conhecimento terreno, ao invés de se perderem nas armadilhas da vaidade, se tornam mais humildes, transcendem a si mesmo e reconhecem com alegria que pouco sabem, e só neste momento a profunda verdade se apresenta, o saber da força maior que move o universo.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Alvorada

Ai de ti, de meu amor
Amar sem objeto verter
Ampliando ao extrato reter,
da matéria, só a letra
Da Vinciana

Eu, que não sei pintar,
resolvi borrar um risco
E esculpir fonemas,
Eu que arrisco

Eu, que da forma
só conheço a casca silábica
Me encolhi no oco da consoante uterina
A-feto
E a palavra pulsou

domingo, 24 de maio de 2009

E o EU com isso?

Refleti um pouco para chegar à conclusão de que estamos vivendo na “sociedade do brinde”. Já parou para perceber? As mercadorias aparecem no mercado com uma promessa: se a pessoa comprar, ganha um brinde. Até aí, alguns podem dizer: qual o problema nisso? Aparentemente nenhum, mas vejamos:
O que emerge na cena cotidiana é o fato de que o brinde, por diversas vezes, ganha o estatuto de objeto principal a ser adquirido, deixando à margem o suposto “carro-chefe” da venda.
Assim, o sanduíche é comprado por que vem com um brinquedo; o xampu vem com uma miniatura de um creme sen-sa-cio-nal; nas compras acima de trezentos reais, o cliente concorre a uma viagem à Espanha com direito à acompanhante.
Então, como a sociedade é reflexo do modo de como a humanidade está lidando com suas próprias questões, podemos concluir que, a manifestação desse tipo de comportamento é o retrato claro de uma vivência que se coloca muito aquém do além que a constitui. De outro modo, podemos exemplificar esse fenômeno levantando perguntas como:
- Por que, às vezes, ficamos sujeitos a dizer coisas que não nos agradam, só para ganhar a simpatia alheia pautada numa farsa? Para ganhar aceitação ao preço de nos desconhecermos?
- Por que abrir para a possibilidade de escolher uma profissão/casamento sabendo, no íntimo, que não é naquela área ou com aquela pessoa que se quer viver uma vida? Para ficar rico e sair na coluna social?
E, enfim, por que abrir mão de ser o que se é, em essência, para ser um pseudo-outro ou um falso eu?
Essa resposta é sua.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O desafio do Tempo


Pense bem antes de responder: Você já viu o tempo passar? Se responder sim eu te pergunto: como? Se você responder que o vê no movimento dos ponteiros do relógio, te direi que isso não é o tempo, apenas o movimento de uma máquina feita na tentativa de acompanhá-lo, mas não é o tempo em si. Se responder que o vê em cada criança que cresce, digo que você vê a evolução da matéria através do tempo, mas movimento da matéria também o sinaliza, mas não é o tempo em si. Se você me responder que o vê no passar das estações, direi que os ciclos da natureza são regidos pelo tempo, mas ainda não é o tempo em si. Então pense bem, pense de verdade antes de responder O que é o tempo?

terça-feira, 12 de maio de 2009

Libertar-se do labirinto.

“Se quer se livrar de um inimigo, deseje-lhe o bem”
Você pode se perguntar: A troco de que desejarei o bem a quem me fez sofrer?
Vou explicar:

Muitas pessoas padecem no desejo de libertarem-se de laços que a prendem à pessoas indesejadas. A primeira providencia para tal costuma ser o afastamento físico, o que sem dúvida se trata de uma atitude acertada na maioria dos casos, mas em poucos costuma ser o bastante, pois o afastamento físico não garante o afastamento emocional, espiritual e psicológico. O que muitas pessoas ainda não entendem é que o que nos liga uns aos outros são os sentimentos. Temos o costume de nos sentirmos ligados as pessoas que queremos bem, que amamos, admiramos e etc. Não há dúvida de que de fato assim o é... Porém também estamos profundamente unidos às pessoas a quem por ventura possamos dedicar ódio, rancor mágoa e toda sorte de sentimentos negativos, o que mesmo distante continua envenenando a mente e o espírito, abrindo um canal para que a influencia de outrem se perpetue. Isso acontece porque o que nos liga às pessoas são simplesmente os SENTIMENTOS, sejam eles ruins ou bons. Deste modo, podemos encontrar razões em beneficio próprio que justifiquem esta tomada de atitude. Pense nisso e a primeira frase desta postagem lhe parecerá lógica e racional ao invés de uma utopia.

domingo, 10 de maio de 2009

Dia da Mães

Aviso da Lua que menstrua

"Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com essa gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..."

Elisa Lucinda

terça-feira, 5 de maio de 2009

Doença Mental não é Doença Cerebral
Vejo revistas, jornais proliferarem a confusão na determinação do que diz respeito às doenças mentais propriamente ditas e àquilo a que se refere ao domínio das doenças orgânicas. Então, grosso modo, podemos resumir essa questão ao seguinte postulado: doença mental não é doença cerebral.
No campo da doença mental estão as neuroses, as psicoses e as perversões. Dentro desse reino é que encontramos a histeria, a neurose obssessiva, a fobia, a esquizofrenia, a paranóia, a síndrome do pânico, a fadiga crônica e todas essas patologias do contemporâneo.
Já no campo da doença cerebral vamos encontrar a demência senil, a epilepsia, a hidrocefalia e todas as manifestações que apresentam alterações cerebrais visíveis através de exames médicos específicos que as comprovem.
As neuroses e psicoses, no entanto, não possuem nenhuma correlação orgânica primária, isto é, não há alteração cerebral como causa primeira na esquizofrenia, muito menos na histeria e assim sucessivamente. Aliás, é daí que nasce a Psicanálise, da busca pelo estudo dos pacientes histéricos que, sem nenhuma evidência passível de apreensão por exames físicos, mantinham-se privados de uma vida sadia por contrações e paralisias orgânicas, sem quaisquer alterações materiais que as legitimassem cientificamente.
Muito tempo se passou desde o início dos estudos de Freud, mas a Medicina busca, até hoje, circunscrever esse "transbordamento", representado pela psicopatologia, com as novas tecnologias do científico. É assim que vimos o desabrochar das neurociências, cujo objetivo não é mais o de mostrar anatomicamente os distúrbios mentais, mas atomicamente ou quimicamente, como a indústria farmacêutica pode fartamente nos atestar. O capitalismo-científico vende a ilusão da melhora por um toque de caixa.
Assim, é muito importante pensarmos as questões mentais como problemáticas filosófico-existencias para além de tecnicismos reducionistas que nos levam a crer que somos aglomerados metabólicos, vendendo supostas respostas ao preço do tamponamento de nossas perguntas.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Despertar.

O que é despertar? Abrir os olhos de manhã? Sim, mas talvez não. Nada nos garante que a vida é um sonho e que a realidade e aquele lugar para onde vamos quando dormimos ou quando esta vida acaba. Este tema não e novo, e é encontrado no conceito de “maia” do hinduísmo, na psicologia ocidental dentro do pensamento de Willian James e de Carl Gustav Jung, e Tb em filmes como Matrix e Waking Life, (que um a aluna me recomendou e um paciente me emprestou, Grata aos 2). E claro o filme que faço meus alunos verem: “Quem Somos Nos”.
Mas o despertar pode ser algo mais simples que questões filosóficas profundas e por vezes perturbadoras que nem todos estão prontos para enfrentar. O despertar pode simplesmente estar contido na pergunta que se faz a si mesmo: “O que é que eu estou fazendo aqui?”. A meu ver esta pergunta é o equivalente a abrir os olhos para a vida. Quem não teve ainda a capacidade de se perguntar por que afinal de contas está vivo, (sem se contentar com a resposta de ser fruto do mero acaso biológico
) ainda esta em sono profundo. Espero poder desejar a todos “BOM DIA!”.

sábado, 25 de abril de 2009

Tarô, I Chig e Sonhos.

E o que eles têm em comum? Todos são mensageiros do inconsciente, respostas que nós mesmos vamos buscar e nos presenteamos, algo muito mais simples do que costumamos atribuir aos seus efeitos misteriosos. Qualquer um que esse interessar em conhecer o inconsciente os reconhecerá imediatamente como uma manifestação da natureza, da natureza humana.
Mas se você é do tipo que não acredita nessas coisas, ou não as conhece, o que me diz de prestar mais atenção aos seus sonhos? Você pode se surpreender com a clareza das respostas que podem ser trazidas em sonhos, basta um pouco de treinamento, e cada vez que der certo, a sua confiança aumentará, e também aumentarão os bons resultados.
Os sonhos ao meu ver são a mais fiel expressão do inconsciente, tanto pessoal quanto coletivo. Gosto muito de receber o sonho de uma pessoa respeitando-o, prestando atenção ao que ele expressa em si - no melhor estilo junguiano -vendo nele a resposta, interpretando-o o menos possível, deixando esta tarefa a cargo do sonhador. Mesmo sabendo que de fato existam símbolos universais, o mar no meu sonho pode ter um significado diferente do mar que aparece no seu sonho. Seja como for, mergulhe nele.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tudo o que você queria saber sobre psicologia, mas tinha medo de perguntar.

Esta semana as aulas que dei para minhas turmas do departamento de Design da PUC após assistirmos o filme “Quem somos nós” foram exatamente como descreve o titulo da postagem. E tenho que confessar que aprecio dar este tipo de aula. Na verdade exige muito do professor tentar esclarecer diversas dúvidas de quase 50 alunos, mas vale muito à pena, a aula fluiu naturalmente de forma que nem vimos a hora passar. Os assuntos foram desde: Inconsciente, hipnose, regressão, esquizofrenia, neurose, o que era o conceito de normalidade psicológica, psicose, fenômenos paranormais, coisas que a ciência atual não explica sobre a mente, cura espontânea, síndrome do pânico, psicopatias, e etc. A lista é ainda mais longa. Respondi a tudo da melhor forma que pude, inclusive revelando o meu não saber a respeito de certas coisas.
O que eu acho de tão legal em dar uma aula assim, que mais parece uma bagunça aonde todos falam e perguntam sobre diversos assuntos, às vezes muito diferentes uns dos outros? “A espontaneidade e o real interesse, e como se diz na propaganda de cartão de credito, “isso não tem preço”. Por mais que sempre procure fazer as aulas ficarem interessantes, eu, como a maioria dos professores, estamos sempre decidindo o que os alunos devem aprender a respeito de psicologia. Ok se tem que ser assim, mas dá para dar mais... Dá para abrir espaço para que os alunos falem a respeito do que querem saber de algo tão amplo, e que varias vezes já se tornou parte de um senso comum, como os conceitos psicológicos. E é bom descobrir que aquele aluno trabalhoso, que esta sempre falando com o colega, continua a falar, só que agora é a respeito do assunto que esta sendo discutido. E como é legal o momento em que quase 50 pessoas se sentem a vontade e seguras para trazer a baila dúvidas a respeito de coisas que já viveram ou presenciaram com alguém próximo. Enfim, tudo passa a ter mais vida e o humano se apresenta em plena sala de aula, e é isso que me faz feliz.
Para quem quiser falar de qualquer destes assuntos, me coloco a disposição, é só passar um email.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Reforma ortográfica: ora pois, não estou a entender
Afora as correntes dúvidas acerca da nova grafia de certas palavras da língua portuguesa, deparei-me, dia desses, com um certo pesar frente às atuais imposições ortográficas. É que lembrei-me do trema, esse amigo de longa data, que muito me fará falta.
O trema, além de fazer toda letra "u" transformar-se numa carinha feliz e dar um aspecto alegre à palavra, presenteou-me, no início da adolescência, com a apresentação da língua alemã.
Isso me fizera crer que havia uma conexão muito simpática entre as duas línguas, ligadas pelo sorriso.
Tempos bicudos esses em que vôo transformou-se em voo, sem chapéu de aviador. Enjôo, então, nem se fala! Agora, não tem mais ninguém para segurar a cabeça do "o" quando ele passa mal...
Por outro lado, fica a dúvida que não quer se calar em relação ao propósito das mudanças. Já li, por exemplo, que, com a uniformização da língua, poderemos cambiar obras abundantemente. Não será necessária uma edição para cada país, incrementando, assim, o intercâmbio cultural entre as nações de língua portuguesa.
Entretanto, penso que não é só a ortografia que faz a língua. E as expressões idiomáticas, por exemplo? Como ler e entender em um texto, que o personagem principal estava dirigindo e falando com as mãos livres (= viva voz), aguardando a chegada na casa de pasto (restaurante), onde finalmente pedirira, como desjejum, uma carcaça (pão francês) e um café?
Acho que, no mínimo, vão vender dicionário luso-brasileiro aos borbotões... Isso é que é lucro editorial!
Há um tempo atrás, um colega contou que, quando estava em Portugal, apertou o botão do elevador de um edifício e travou o seguinte diálogo com a pessoa que estava lá dentro:
- O elevador tá subindo ou tá descendo? - disse o colega.
- Está parado. - disse o cidadão.
Isso sem falar que descarga de banheiro parece uma catástrofe da natureza... um "autoclismo". Cruz credo, eu é que não aperto!
Vejam meus caros, a situação não é das mais fáceis...
E a rapariga aqui está a apanhar aos montes.


domingo, 12 de abril de 2009

Pai-descendo no paraíso

O silêncio sereno se estendera aos vários dias da semana para que, de braços abertos, ela recebesse a Sexta-Feira Santa.
Cabelos ao vento, vôos de pensamento, lembrou da história da humanidade personificada em Adão e Eva. E foi assim, remontando a si mesma, que foi levada, naquele dia, a desnudar-se internamente e emudecer-se para os de fora.
Com a coragem própria de quem se esvazia buscou, no coração de seu ser, sua sombra.
De olhos abertos, reconheceu velhos fantasmas, todos pertencentes àquele sortimento de sensações que experimentava e que, subitamente, apresentava-se também como EU.
Observando cuidadosamente as cenas que sucediam ao seu redor, compreendeu que só poderia entendê-las pelo ponto de vista próprio e singular daquela existência que, investida de um corpo, quase transbordara ali mesmo.
Então, com os olhos rasos d'água, amigavelmente acompanhada por um dia chuvoso, pôs-se a reconciliar com tudo aquilo que expurgara de si ao ponto de denominá-lo de outro.
"Pai Nosso que estás no céu..."
Equacionou aparências:
"Pai Nosso que estás no eu..."
Deitou, dormiu fletida e acordou em um Domingo de Páscoa, parida por uma manhã, dividindo essas palavras com todos aqueles que, companheiros de viagem, viram, nesse relato, um porto e um pouco de si.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Vizinhos

Bom, falarei agora de algo pouco acadêmico, (quem diria!) Pois é, quem me inspira hoje são meus novos vizinhos. Depois de um longo tempo sem tê-los, vivíamos, eu e minha família em estado de graça paz tranqüilidade e acima de tudo silêncio. Há pouco mais de 2 meses eles surgiram. Pessoas simpáticas, mas pessoas acima de tudo, e sua presença fizeram sentir com intensidade já no primeiro final de semana. Logo de manhã fomos acordados ao estrondoso som de Gilberto Gil Uau! Nos outros finais de semana fomos brindados com Rita Lee e Pink Floyd. Bem eu tinha duas escolhas, ficar irada e chamar a sindica (o que não adiantaria nada mesmo), ou dar graças aos céus por eles não gostarem de funk, que com todo o respeito é demais para a minha pessoa... Assim, hoje optei pela segunda opção, é, estou até pensando em colocar a cabeça na janela e perguntar se eles não têm um cd do Led Zeppelin, Dire Straits, que eu não ouso faz um tempo... Já que estamos vivendo em comunidade sonora, poderíamos pelo menos ser consultados quanto ao repertório. Enfim, eu só quero é ser feliz... OOps, é melhor não dar idéia.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Conte até dez ou um pouco mais...

Amigos, quando algo não passa pela nossa garganta costumamos ouvir que antes de falar alguma coisa é melhor contar até 10. Olha, adianta. Dá tempo do impulso agressivo causado pela raiva amainar e nos possibilita não criar ali algo do qual possamos nos arrepender depois, pois a palavra desculpa não faz com que as outras sejam esquecidas. Mas não vomitar na hora não significa que está tudo bem, há algo mais profundo que precisa ser feito, arrancar a semente de magoa que pode ter caído no terreno fértil de nossas fraquezas, e que mesmo depois de 10 minutos pode começar a brotar. Então eu sugiro contar até 48, 48 horas. Isso mesmo. Dois dias para que possamos pensar e repensar no que nos fez passar por tal situação com certa pessoa. Creio que após este tempo, possamos até mesmo conversar em prol de uma reconciliação, ou escolher um silencio sereno. Para mim adianta, quem quiser pode experimentar.

sábado, 4 de abril de 2009

Para os que sentem, para os que falam e para os que escutam

O que dizer par alguém que se encontra na sua frente, relatando a vivência de um sofrimento profundo, causado pela perda das bases que até então ordenavam a sua vida? O que parecia tão sólido se revelou como um amontoado de bolhas de sabão. É a desilusão... Enfim, o que você vai dizer vai depender do tipo de pessoa que você é , e para os colegas que lêem estas palavra, do tipo de terapeuta que você se propõe ser e do que tem para dar enquanto ser humano – pois como eu gosto sempre de lembrar até mesmo para os meus pacientes: psicólogo também e gente. E não se aprende a ser gente na faculdade... E como Jung gosta de enfatizar, o processo terapêutico se dá a partir do encontro de duas psiques, a do terapeuta e a do paciente, e o primeiro não pode levar o segundo a enxergar além do alcance do seu próprio olhar, o que independe de qual técnica de tratamento esteja sendo utilizada, mas sim de uma combinaçao de profundo conheciemnto e humanidade.
Voltando a questão proposta do que dizer a alguém que sofre, pode-se optar pelo elegante e seguro silêncio. Esta postura abre espaço para que a angústia se coloque, o que tem sua serventia, mas pode em alguns casos ser pouco acolhedor...
Pode-se então ir um pouco além acolhendo a angústia não apenas como uma queixa, mas como uma representação de um conteúdo humano encerrado na crise. Assim, há como vasculhar o que se esconde, o que está oculto, transformando-o no que se revela. E conteúdos revelados sempre serão bem vindos, pois apenas assim poderão ser trabalhados.
Caso quem escute possua mais alguma sensibilidade, poderemos encontrar bem ali, no sofrimento, a responsabilidade expressa pela lei da colheita, que dá ordem e sentido a tudo o que nos rodeia. Assim abre-se a possibilidade de olhar o humano que nos transmite algo além do compadecimento por aquele que sofre, enxergando nele, mesmo na situação adversa que for, algo mais que um coitado, algo mais que uma vitima,, alguém que de alguma forma pode ser capaz de se superar. Isto também tem sua serventia...
Mas poderemos ir ainda mais além, passando-se da analise do porquê para a analise do para quê. Do sofrimento para além de um mero castigo ou fatalidade, e compreendê-lo como uma oportunidade de crescimento. Isso exige uma visão fina e aguçada, pois a oportunidade pode ser comparada a uma semente contida na adversidade, que começa a crescer no instante em que é encontrada.
Na verdade esta não é uma questão muito fácil, façamos assim o melhor que nossa visão nos permitir, lembrando sempre que ela pode ser eternamente expandida.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Pra quem é Brasil
O filme brasileiro"Casa de Areia" realmente é um negócio de bom!
Aquelas dunas maranhenses, como metáfora do inconsciente, dizem muito.
E, sem metáfora, também é um espetáculo.

domingo, 29 de março de 2009

Falando do inconsciente, Jean-Yves Leloup pontua:
"Durante a vida, é importante cativar o desconhecido. Como diz o Pequeno Príncipe, não se trata de domesticar a raposa, porque ela foge. Trata-se de cativá-la, porque então ela virá e ficará".
(p.30, "Além da Luz e da Sombra, 2002)
Do Ornitorrinco Amarelo
Durante muitos anos, as investigações feitas no campo da Psicologia foram taxadas de a-científicas. Tal afirmativa assentava-se sobre o legado da perspectiva cartesiana de Ciência, pautada em um método específico que, enquanto critério de avaliação da realidade, excluía, intencionalmente, a subjetividade do campo da ascese a então conclamada Verdade Universal.
Afiliados a esse pensamento, também vimos o surgimento, dentro do próprio campo psi, de linhas francamente favoráveis a esse paradigma, amparadas numa perspectiva racionalista da existência.
As outras linhas, contudo, tiveram de engolir, décadas a fio, toda espécie de achaques, de risadinhas canhestras à hostilidade dos confrontos mais claramente configurados.
Entretanto, o que estamos assistindo há algum tempo é uma virada no campo epistemológico na concepção de Ciência. A subjetividade passa, paulatinamente, a ganhar peso enquanto elemento fundante da avaliação e validação científicas.
Então, hoje, podemos nos dar ao direito de mais uma vez reafirmar que, dentro daqueles padrões clássicos de aceitação de fatos universais, a Psicologia nunca foi Ciência.
Porém, com uma só ressalva: Ela jamais foi a-científica e, sim, para além do científico
daquela época.
Tanto Freud quanto Jung, cada um ao seu modo, já haviam ressaltado a importância da nuance afetiva, que compõe o universo de valores de cada sujeito, na captação da verdade psicológica como um todo. Sendo assim, o peso que cada um dá àquilo que vive condiciona a maneira de compreender a si próprio, o outro e o mundo.
Deste modo, o observador retrata o observado à luz de sua realidade subjetiva, ou seja, de sua concepção intelectual e emocional dos fatos, não havendo, pois, neutralidade possível, ainda que se busque um distanciamento.
Por conseguinte, podemos perceber que o número de críticas levantadas a essa perspectiva traz, em seu bojo, certa esterilidade, uma vez que calcadas, em grande parte, em elucubrações intelectuais, retratos desfocados de uma realidade muito mais rica e complexa, impossível de ser acessada por uma departamentalização do psíquico. Como nos diz Jung (1976):
“Uma crítica filosófica encontrará toda espécie de defeitos, se não atentar previamente que se trata de fatos e que o chamado conceito, neste caso, não é mais do que uma descrição ou definição resumida desses fatos. Ele terá também tão pouca possibilidade de prejudicar o objeto, quanto à crítica zoológica a imagem do ornitorrinco”.
Pois bem, contra o cinza pertencente às racionalizações inférteis, somos assim, Ornitorrinco. Amarelo, é claro.

sábado, 28 de março de 2009

Física quântica, Jung e o retorno a criança original.


Há muito tempo os grandes saltos das teorias psicológicas caminham paralelamente aos avanços de outros campos do saber, em especial a física e suas concepções de mundo.Quando foi observada a “dualidade onda- partícula”, abriu-se espaço para um novo pensar a respeito de assuntos até então considerados meramente metafísicos e subjetivos, como a participação do ser humano no mundo que o rodeia.
Para os que ainda não conhecem este fenômeno, a dualidade onda- partícula se dá quando um objeto quântico apresenta características ora de partícula, ora de onda, dependendo de como “olhamos” para ela. A partícula se comportava como matéria quando observada pelo cientista, e como onda quando não olhada. O que torna esta descoberta notável é o caráter subjetivo do resultado do experimento: ele depende e é influenciado pela nossa escolha.
Com esta descoberta, foi impossível para as mentes mais aguçadas deixarem de se questionar quanto ao efeito que isto teria sobre a concepção de mente, do ser humano e de sua interação com o mundo. Estávamos diante do fato (já a muito contestado na psicologia) de que nem mesmo nas ciências naturais reside a mítica imparcialidade científica. E com isso veja o que encontramos! O ser humano não é um observador passivo, faz parte da natureza humana construir o mundo ao seu redor. Esta capacidade natural nos faz lembrar o conceito de Jung a respeito do Self, ou si mesmo, como o centro da psique ao qual devemos sempre procurar retornar através do processo de individuação, pois é lá que reside a força original intrínseca a todos nós, inclusive a possibilidade de reger nossa própria vida. Todo trabalho psicoterápico realmente profundo, se baseia na premissa de que para obter a cura precisamos nos ver como principais responsáveis pela situação em que nos encontramos, só assim haverá abertura para que algo realmente transformador possa surgir.
Apenas conceber o estado de vítima como antinatural pode explicar a devastação causada na vida das pessoas que se colocam nesta condição. Ser vitima é abrir Mão do direito e do dever de transformar a própria vida, atribuir aos fracassos a responsabilidade de outrem, sejam estes: familiares, patrões, governantes e etc. É o lugar “cômodo” e petrificante daquele que não se move, é estar fora do eixo, apartado do si mesmo.
Mas não fomos sempre assim, a noção de que tudo no mundo acontece a nossa revelia, é aprendida de forma tão eficiente que nos esquecemos do tempo em que quando crianças tínhamos aquela certeza de que tudo no mundo acontecia para nós e por nós. Quando crianças ainda nos sentimos naturalmente em harmonia e conexão com a fonte da sabedoria interior - e por isso mesmo superior - que nos traz o sentimento de ser e estar conectado a tudo e a todos. Com o passar do tempo vamos aprendendo, ou sendo levados a crer, que o mundo não existe por e para nós, e temos pouco ou nenhum controle sobre os acontecimentos. Todo o sentimento mágico de conexão com todos os eventos que nos rodeiam é reduzido a quase nada, e freqüentemente inacessível a memória. É o afastamento do si mesmo, removido pela concepção de mundo baseada no materialismo. Concepção esta completamente apartada do sagrado, onde tudo, inclusive a vida, acontece por mero acaso. O que segundo Jung é uma das grandes causas das neuroses atuais. Esta mentalidade que nasceu há centenas de anos ainda rege o pensamento de grande parte da nossa sociedade. O materialismo fatalístico vitimiza e coloca o homem longe da sua essência e de seu poder, priva-o da participação com todos os elementos do universo, reduzindo-o a um objeto a deriva em um mar de incertezas. A vida passa a ser vivida como uma sucessão de acontecimentos fortuitos que nos acometem aos desordenados borbotões. E essa impossibilidade pouco tem a ver com a noção de destino, e sim com a noção de falta de sentido. Aprendemos que na verdade somos espectadores passivos, no máximo reativos ao que acontece ao nosso redor. O que faz com que seja perfeitamente normal a disseminação do sentimento de vitima, que acomete 9 entre 10 pacientes que adentram nos consultórios, gerando a sensação de incapacidade e baixa auto estima.
Quando empreendemos o processo de individuação como definido por Jung, inevitavelmente iniciamos um retorno ao sentimento de conexão que cresce na medida em que nos aproximamos do si mesmo, o eixo da psique que nos permite acessar a realidade até então inconsciente. Munidos da maturidade acumulada pelos anos, podemos fazer uma releitura daquele sentimento primordial, como a subida da espiral que passa pelo mesmo lugar em uma posição mais alta, resgatando a profunda verdade existente na primeira infância de forma mais consciente. Esta é a essência de retorno a criança original.
Quem tiver olhos para ver que veja...
Sociedade é eu e você
Após iniciar a idéia e falar a respeito da bipolaridade enquanto “modismo social”, resta-me ainda pontuar algo que sai desse registro, eminentemente mercadológico, e verte-se para uma reflexão acerca do mundo contemporâneo.
Sendo assim, não é fato singular a percepção de que vivemos em uma época marcadamente de opostos, onde os conflitos étnico-religiosos pululam nas páginas de qualquer jornal do mundo.
Em meio a isso, também temos de nos haver, cotidianamente, com o fato de que envelhecer fisicamente virou uma espécie de tabu social ocidental. As clínicas de embelezamento estão superlotadas, as mulheres viram moças em dez aplicações de meia dúzia de substâncias e as meninas viram mulheres em qualquer editorial de revista de moda.
Antigamente, envelhecia-se. Hoje em dia, deforma-se. Quanto extremo!
Pois bem, para além do espetáculo de horrores cotidiano, o que está em questão é a sociedade em que vivemos. E o que é essa tal sociedade?
Ora, teorias à parte, sociedade é uma abstração, uma conceituação intelectual.
Em verdade, o quero dizer é que essa tal “análise sociológica” dos acontecimentos só é válida quando subjaz à uma outra, bem mais direta: Sociedade é eu e você.
Saiamos, pois, do ópio das racionalizações! Não há isenção possível quando o assunto é viver.
Então, que tal questionarmos sobre os opostos que gritam dentro de nós mesmos, que, quanto mais os maquiamos, mais eles aparecem? Afinal, a sociedade é a conseqüência direta disso.
Por fim, como sabiamente nos esclarece Jung (1976): “(...) quando um fato interior não se torna consciente ele acontece exteriormente, sob a forma de fatalidade, ou seja: se o indivíduo se mantém íntegro e não percebe sua antinomia interior, então é o mundo que deve configurar o conflito e cindir-se em duas partes opostas.”