Certo dia uma pessoa me ligou querendo marcar uma consulta e me perguntou qual era o andar do meu consultório. Respondi que correspondia ao nono andar, ao que ela respondeu aliviada: Dá para chegar de escada. Percebi que provavelmente um de seus problemas era medo de elevador.
No dia da consulta, relatou que este medo já durava seis anos, e que a terapia que fazia há cinco anos não estava adiantando muito, e por isso aceitou uma indicação de uma ex paciente minha.
Depois de ouvi-la por 50 minutos avisei que a sessão estava terminando, e me ofereci, caso fosse da sua vontade, poderia acompanhá-la no elevador, neste ou em outro dia, assim poderíamos usar o elevador como um coadjuvante ao tratamento de psicologia analítica. Para minha surpresa ela me olhou com espanto no fundo dos meus olhos e me perguntou? Você faria mesmo isso? Com mais espanto respondi: Claro que sim. E ela disse: Pedi tanto para a minha outra psicóloga fazer isso comigo, mas ela disse que na corrente que seguia não era permitido sair do consultório com o paciente. Achei que todos eram assim também.
Entendi que segundo o pensamento te´rico seguido pela minha colega desconhecida, seria uma espécie de heresia macular a prática terapêutica com uma prática que pertencia a outra linha, a cognitivo comportamental. Esta também não é a minha linha, mas linhas não são correntes, e o que me encantou em Jung desde os tempos de faculdade foi a postura de que em primeiro lugar vem a pessoa e não a teoria, e que deveríamos estudar muito para "esquecer tudo" no momento em que estivéssemos diante de um ser humano. Ele costumava dizer que teoria são como correntes. De fato pesam e dão poucas opções, aprisionam e restringem, e funcionam como âncoras para quem tem medo de ousar ir além.
Já uma linha segue de guia, não pesa, e serve para costurar feridas preparando os seres humanos para ir em frente.