terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pais e filhos.

É quase anedótico o fato dos psicólogos vasculharem as minúcias das relações entre pais e filhos a fim de encontrar a origem de traumas que geraram neuroses ou distúrbios psicológicos que o valham. De fato abrindo estes arquivos podemos encontrar muitos vírus e erros de programação. Mas nem sempre só a culpa é dos pais, o mérito também é. Dia destes estava ouvindo um jovem, e perguntando a respeito do motivo pelo qual ele não aceitou usar drogas, mesmo tendo oportunidades de fazê-lo, ele me respondeu: "Porque meus pais me educaram direito." "Como assim?" "Eles não me davam folga, marcavam em cima direto, sempre querendo saber com quem eu estava. E quando sabiam de algo errado que eu fazia até apanhava". "Mas existe alguma coisa em relação a eles da qual você se ressente?" Olha, perfeito eles não são, mas eu nunca nem vi eles brigarem na minha frente. Então não tenho nada a dizer. A unica coisa é que nem sempre eles ficavam me enchendo de presentes, davam só em datas de aniversário e natal. Mas com isso eu aprendi a valorizar o que eu tenho. Quando crescer quero criar meus filhos assim".
Eu mesma não sou muito a favor de castigos físicos, é uma questão muito polêmica. Mas reparem bem que este é o relato de uma pessoa que apanhou na infância, mas que nem por isso ficou com raiva dos pais. O que vem ao caso aqui na verdade não é o apanhar ou não apanhar, e sim a atenção, a dedicação e o carinho. Cada dia que passa a prática clínica e a vida me confirmam que o descaso doi muito mais que uma palmada dada sem raiva.

Um simples sorriso

Um dia destes cheguei na clínica onde fica meu consultório e a secretária me deu bom dia perguntando "A sua orelha não coçou ontem?" Respondi que não. E ela me disse que uma pessoa havia falado muito bem de mim. Pensei que era um paciente satisfeito, mas não era. Se tratava de uma pessoa a quem eu havia dado um sorriso e perguntado se estava precisando de alguma coisa quando a vi chegar um pouco perdida na clínica. Foi só isso. Na verdade nem me lembro da pessoa. Aquilo me fez pensar não em como eu era uma pessoa simpática e agradável, mas em quantas oportunidades de plantar coisas boas para mim e para os outros eu perdi nos dias em que não estava sorrindo.

domingo, 17 de outubro de 2010

"Não existe nenhuma dificuldade em minha vida que não seja exclusivamente eu Mesmo" C. G. Jung

A frase acima está impressa na sacola em que eu trouxe o Livro Vermelho. Mesmo antes de abri-lo, a sacola já me pareceu algo que soava fundo na consciência. Por estes dias me senti tentada diversas vezes a reclamar da vida, e imediatamente a sacola vinha a minha mente. Não que isto seja exatamente uma novidade. De fato creio que tudo, até mesmo o que não está bom, é em ultima análise fruto de mim mesma. Já expressei esta idéia antes em algumas postagens. Mas vê-la impressa em letras garrafais todos os dias sobre a minha mesa de trabalho, encarando-a diversas vezes, me forçou a entrar cada vez mais fundo em meu ser. E então eu voltava para perto de mim, para dentro de mim. Quando quis culpar o mundo, só encontrei eu mesma.
Esta idéia que promove o processo de individuação provavelmente é arquetípica, pois além da frase do famoso psiquiatra suíço, existe um compositor de música popular brasileira, Juraildes da Cruz, que compôs os seguintes versos capazes de despertar as mesmas reflexões nesta que vos fala:
"Eu tentei fugir de mim, mas aonde eu ia eu tava, quanto mais eu me escondia, mais eu me encontrava"

domingo, 10 de outubro de 2010

Amar ao próximo.

Muitas vezes, quando somos levados a falar ou a pensar a respeito de nós mesmos, é comum que a primeira vista nos vejamos inicialmente pelas qualidades,. Sim, podemos de fato ser  pessoas legais, no geral. É, afinal, se não prejudicamos de forma grave alguém, e fazemos alguma caridadezinha de vez em quando, pode ser que seja o bastante para sermos sim pessoas legais. Bom, pelo menos acima da média, eu acho... É...
Mas quantas vezes não olhamos aqueles que estão próximos de nós. quantas vezes visitamos aqueles parentes doentes, paramos para conversar de verdade com maridos, esposas, pais, e filhos? Será que uma pessoa que não consegue amar de fato aqueles que estão mais próximos pode se vangloriar por fazer passeatas com o Greenpeace? Visitar orfanatos e asilos em dia de natal?
Você pode estar pensando "eles não me procuram". Mas e daí? Deixe de ser vítima e lembre da oração de São Francisco.
"Amar que ser amado/ Compreender que ser compreendido/ Pois é dando que se recebe"