segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Branca de Neve a Rainha e o Espelho ou: Self, Ego e Consciência.



Em tempos nos quais as mulheres têm se identificado mais com a Rainha Má que com Branca de Neve vale usar a rica metáfora.
Costumo dizer que todos os contos de fadas e mitos podem ser vistos de diversos ângulos e níveis de profundidade, como uma paisagem que muda a cada vez que é observada de um patamar diferente.
No caso da clássica Branca de Neve, ao invés de tratar do embate eu e o outro que pretende no nível mais básico, falemos da estranha relação entre o espelho, extremamente simbólico por si só, e a Rainha Má.
Eis que segundo a história, durante incontáveis dias, a Rainha repete a mesma pergunta para o espelho “Espelho, espelho meu, existe no mundo alguém mais bela do que eu? ” Trata-se de uma pergunta retórica, a resposta já é esperada. A Rainha, apenas deseja a reafirmação cega e nada consciente de seu valor externo. Está empedernida, arrogante e acomodada. Não há um desejo de autoconhecimento, evolução ou transformação, apenas a necessidade de manter as aparências externas, de receber o elogio e o olhar do outro. Mas eis que este espelho não é um espelho qualquer, é um poderoso oráculo, que em sua essência é conectado às profundezas do inconsciente, e quando menos se espera surge com a incômoda verdade.
Quando isso acontece, a Rainha passa a sofrer com a força do tempo (nosso velho Cronos) não vê que uma bela criança cresce em seu próprio universo. Ao invés de abraça-la e reconhecer seu brilho divino, a faz querer ser sua serva, diminuindo o seu valor. Mas ora, Branca de neve é de fato a filha legítima do Rei, a herdeira natural, e não pode ser serva de ninguém. O Self jamais será servo do Ego. Quer queira quer não, chega um dia em que o espelho, aquela voz interior começa a dizer outra coisa. Branca de Neve agora é a mais bela. Neste momento a Rainha ainda poderia sem maiores problemas aceitar o novo, porém, o ego irrefletido é assim mesmo, luta para manter-se vivo, para legitimar-se como senhor do espírito, centro da psique. E assim é. O ego nega a voz profunda que vem do inconsciente e começa a se tornar cada vez mais consciente, e luta contra a transformação, mas como todos sabem, não tem jeito.

Até quanto estamos identificados com a Rainha má que deseja apenas a manutenção das aparências entrando em um estado de comodismo a ponto de querer até mesmo matar este novo belo, porém comprometedor, Self que vem se apresentando e exigindo transformações?