Esta semana estava arrumando o meu consultório, e resolvi mudar de
lugar os meus queridos quadrinhos pintados por Duda Aquino, além de colocar
outro na parede. Foi quando me vi diante de um dilema: colocar pregos ou a
moderníssima fita adesiva de dupla face? De fato ainda não a havia
experimentado, mas já ouvira falar dela em verso e prosa como uma revolução no
mundo da decoração, com a promessa de nunca mais ter que danificar paredes com
pregos, ou melhor: correr o risco de martelar o dedo dentre outras maravilhas.
Pois sim, comprei um rolinho toda feliz e mãos à obra - gosto muito de fazer
esse tipo de coisa, inclusive instalar luminárias, tomadas e afins.
Colei tudo direitinho. Bom, mais ou menos,
até Bianca - minha sócia e grande amiga - entrar e com aquele olhar de águia
chatinho dizer: amiga, tá torto... Ai! Quando olhei a distância vi que ela
tinha razão. Foi quando o pânico se instalou: E agora, é fita! Se fosse prego
um tapinha, uma batidinha de martelo em direção ao ponto cardeal desejado e ok.
Mas tivemos que com muito custo removê-lo.
E adivinhem o que aconteceu? O reboco veio
todo junto!!! Como desejei imensamente que fosse um singelo e tradicional
prego, com aquele furinho gentil que dá para esconder com pasta de dente
barata. Mas não, tinha um quadrado sem reboco na minha parede, uma cicatriz indisfarçável que só seria reparada por um profissional. E como se não bastasse, tudo isso ficou preso como um grude difícil de limpar no verso do meu quadrinho.
Foi quando pensei nos relacionamentos
superficiais tidos como um grande avanço do comportamento amoroso (?) humano.
São como essas fitas, que embora superficiais, fáceis de manejar e aparentemente flexíveis, não se
prestam a ajustes, e quando a inadequação é percebida, ao serem removidos levam
embora um pedaço da alma, deixando uma ferida exposta difícil de curar sem um
profissional. Ou um grude difícil de se livrar.
Já os relacionamentos profundos, conservam em si algo de tradicional que lembram os pregos, dão um pouco de trabalho,
mas depois disso, por atuarem em profundidade, são mais estáveis, confiáveis e até algo
flexíveis, pois em várias ocasiões se prestam à remoção para serem recolocados ao invés de descartados, sem contar que nesses casos a marquinha é mais facilmente reparável.
Agora lá estão os quadrinhos, presos com pregos que os sustentam com gentileza e doação pois certamente não os danificarão.
Reflexão: Nem todas as inovações são para
o bem da humanidade.