domingo, 2 de maio de 2010

Os pólos extremos do lugar materno

Antigamente havia definições bem mais rígidas para os papéis sociais exercidos por homens e mulheres, principalmente no que se refere ao cuidado dos filhos. Boas mães eram aquelas que se dedicavam exclusivamente a criação da prole, abdicando de toda e qualquer aspiração profissional. Era até mesmo raro que uma mulher tivesse nível superior. Para que não é mesmo... As mulheres que não se encaixavam neste modelo e que aspiravam uma vida que não fosse restrita aos cuidados da casa não eram muito bem vistas.
Hoje os tempos mudaram. Uma mãe padrão é aquela que estuda, se forma (ou não), trabalha e se desdobra entre a carreira e os filhos. Sim, pois hoje em dia não toleram mulheres que “não fazem nada” “apenas cuidam dos filhos” não contribuindo para a sociedade e se empobrecendo como pessoas..
Como dizia Jung, o mundo é feito de pares de opostos, e os seres humanos quase sempre revezam entre um pólo e outro sem que seja alcançado o almejado equilíbrio. Nas situações descritas acima mudaram apenas os pólos. Nenhuns dos dois modelos garantem mães melhores e mais felizes, justamente por serem impostos de fora para dentro, e não fruto das necessidades do âmago da organização de cada família, da maneira de cada mulher dar conta dos seus deveres e aspirações. Quando se reprova um comportamento se esta apenas invertendo o preconceito. Extremismo e rigidez apenas geram preconceito. O preconceito que se tinha antigamente com mulheres que não se restringiam aos limites do lar agora se lança implacável contra as mães de hoje que decidem ficar em casa com os filhos.
Eu tenho duas grandes amigas que fizeram esta opção. Opção sim, pois são mulheres de classe media alta do Rio, inteligentes, bonitas, instruídas que escolheram ter 4 filhos (cada uma) ao invés de focarem suas carreiras. Obviamente estão com maridos que avalizam a escolha, mas até por isso são criticadas as vezes “pois aonde já se viu ser sustentada pelo marido?” Muitos homens atualmente também inverteram os pólos: antigamente proibiam as mulheres de trabalhar, e hoje ouço casos em que o marido exige que a “encostada” coloque dinheiro em casa também.
Para as minhas amigas que costumam ser vistas como aberrações quando se dizem mães de 4 filhos eu sugiro que digam sempre que tem 4 vezes mais felicidade em casa. E embora a minha própria opção tenha sido diferente, eu as admiro pela capacidade de doação e pela coragem de ir contra um modelo imposto pela sociedade, uma coragem tão grande quanto à das mulheres de antigamente que se deram ao direito de ir alem dos limites domésticos.
Qualquer discurso que nao leve em conta o particular está fadado ao fracasso. O que de fato importa é a capacidade de ser uma mãe “suficientemente boa” como amorosamente dizia Winnicitt.. Que cada uma de nós tenha o direito e o espaço de se tornar o que é. Este é o sentido principal do processo de individuação, como dizia Jung.

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