Mas se você é como eu, que ouve o fim do filme e assim mesmo vai ver, pode continuar lendo.
Estes dois filmes falam a respeito de uma das mais respeitosas e misteriosas forças a serviço da natureza: o mar. O mesmo mar que acalenta nossos desejos de férias paradisíacas pode se tornar implacável e avassalador. É assim com tudo o que há no mundo, tanto na natureza quanto na natureza humana, tudo o que existe neste mundo têm duas faces. No caso do mar, quando a sua força se manifesta nada pode impedi-lo, a maior das tecnologias é posta a rolar sob as ondas, e ele vai onde quer e como quer, levando o que quer. Nessas horas diante de tanto desamparo, a arrogância do homem só pode contar com a sorte.
Mas o que é sorte? Bem, para quem acredita apenas no mundo material, a sorte é um acaso, e só. Para quem tem consigo a certeza da existência do sagrado, a sorte é uma intervenção causal de uma força maior.
Nos dois filmes, os personagens se vêm a mercê das forças do mar. Em as aventuras de Pi, o jovem após um naufrágio permanece dias e dias a deriva na companhia insólita de um tigre, animal de natureza feroz e indomável, assim como o próprio mar. Pensei que ia apenas ver um filme de aventura com meus filhos, sem grandes implicações profundas. Mas para a minha surpresa, o filme em essência fala a respeito de coragem e confiança em Deus. Quando o filme começa u escritor vai procura Pi pois lhe disseram que a história que ele tem para contar o fará acreditar em Deus. E o jovem personagem já começa trazendo para si a ligação com o sagrado em diversas formas, procurando entender Deus, e é como se ele passasse por tudo para conhecer de fato este Deus, que só é realmente reconhecido após uma tempestade na vida das pessoas.
Durante todo o filme, o bote é habitado por Pi, O tigre, e Deus. E no final, após muitos momentos de dúvida e fúria contra Deus, e outros de reconhecimento e gratidão, ao invés de achar-se esquecido e injustiçado, Pi tem certeza da existência de Deus apesar de compreendê-lo por inteiro, posto que isso não é possível para o ser humano.
Pi perde toda a sua família, e sai com a certeza da existência de Deus.
Já no segundo filme, O Impossível, já fui com a expectativa de encontrar o que encontrei em As Aventuras de Pi, pois já sabia que se tratava da história de uma família - pai, mãe e 3 crianças - que apesar de terem sido tragados pelo tsunami e atravessado todas as situações acarretadas por uma catástrofe daquela magnitude, sobreviveram e se encontrara. É uma história real, onde o próprio título já expressa a impossibilidade de algo assim ter um final feliz, mas aconteceu.
Toda a família se reúne e mesmo assim, tudo se passa sem que em momento algum alguém faça uma referencia ou mesmo suponha a existência uma força superior que os tivesse guarnecido apesar de ser impossível... Aquilo que costumamos chamar de milagre, quando o impossível se torna possível. Mesmo assim, muitos preferem chamar isso de sorte. Mas o que é a sorte?
O Sagrado na verdade está em todos os lugares, e em alguns momentos se apresenta com toda a sua força,mas a percepção do sagrado só pode morar nas mentes despertas para algo além do que os olhos materiais podem ver, mesmo que seja um tsunami.
Mas mesmo assim, para quem ainda não buscar o sagrado, as lições de superação são válidas em ambos os filmes.