domingo, 14 de abril de 2013

Certos casos: Linhas e Correntes

Certo dia uma pessoa me ligou querendo marcar uma consulta e me perguntou qual era o andar do meu consultório. Respondi que correspondia ao nono andar, ao que ela respondeu aliviada: Dá para chegar de escada. Percebi que provavelmente um de seus problemas era medo de  elevador.
No  dia da consulta, relatou que este medo já durava seis anos, e que a terapia que fazia há cinco  anos não estava adiantando  muito, e por isso aceitou uma indicação de uma ex paciente minha. 
Depois de ouvi-la por 50  minutos  avisei que a sessão estava terminando, e me ofereci, caso fosse da sua vontade, poderia acompanhá-la no elevador, neste ou em outro dia, assim poderíamos usar o elevador como  um coadjuvante ao  tratamento de psicologia analítica. Para minha surpresa ela me olhou com espanto no  fundo  dos meus olhos  e  me perguntou? Você faria mesmo isso? Com mais  espanto respondi: Claro que  sim. E ela disse: Pedi tanto  para a minha outra  psicóloga  fazer isso comigo, mas ela disse que na corrente que seguia não era permitido sair do consultório com o  paciente. Achei que todos eram assim também.
Entendi que segundo o pensamento te´rico seguido pela minha colega desconhecida, seria uma espécie de heresia macular a prática terapêutica com uma prática que pertencia a outra linha, a cognitivo comportamental. Esta também não  é a minha linha,  mas linhas não são  correntes, e o que me encantou em Jung desde os tempos de  faculdade foi a postura de que em primeiro  lugar vem a pessoa e não  a teoria, e que deveríamos estudar muito para "esquecer tudo" no momento em que estivéssemos  diante de um ser humano. Ele costumava dizer que teoria são como correntes. De fato pesam e dão poucas opções, aprisionam e restringem, e funcionam como âncoras para quem tem medo  de ousar ir além.
Já uma linha segue de guia, não pesa, e serve para costurar feridas preparando os seres humanos para ir  em frente.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá, "formei-me" no final de 2012 e sigo a linha existencial, e atualmente curso pós em terapia existencial e gestalt-terapia. Sou um grande admirador de Jung, por muitos motivos, em especial o cuidado e a importância dada à espiritualidade, e pela identificação dele com uma postura fenomenológica. Tenho planos de cursar alguma pós em psicologia analítica. Abraço!

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