sábado, 14 de agosto de 2010

O filme "A Origem" e a noção de inconsciente em Jung

Ontem fui ver o filme "A Origem". Estava impedindo que me contassem algo para que me sentisse surpresa ao ver o filme, cujo tema muito me interessa: sonhos. Portanto quem ainda não viu pode ler o post depois.
Não foi muito bem o que eu esperava, mas de fato eu não sei se esperava muita coisa ou se eu apenas esperava que tivesse algo mais a ver com o que realmente considero como sendo a profunda razão e função dos sonhos: a transcendência.
No filme o sonho é mostrado como uma função praticamente restrita a biologia, que devido a profundidade pode influenciar a mente. O sonho dá acesso ao inconsciente, mas apenas se restringe ao inconsciente pessoal, o inconsciente freudiano, no qual são guardados os nossos sentimentos, pensamentos e desejos mais obscuros, difíceis de admitir e lidar. Ele existe? Sim, claro que sim. Mas os sonhos também podem ser mais do que meras reconstruções de fragmentos inconscientes. Tudo depende da visão de ser humano que desejamos expressar. Se queremos passar a idéia de que somos apenas seres biológicos sem transcendência, e que tudo é fruto de fragmentos assumidos ou não, do mundo "real" e nada mais, não há mesmo como sequer vislumbrar que sonhos sejam mais do que foi demonstrado no filme. Os sonhos seriam assim apenas labirintos sem saída, pois não há nada além. É um meio do caminho um morrer na praia, pois seguindo esta visão, ao aprofundar-se em si mesmo só resta ao ser humano se conformar com o fato de que a vida é um beco sem saída e que para a frustrações e os erros não há mais solução.
Realmente. Para quem não vislumbra a capacidade do ser humano transcender a si mesmo, a vida não tem saída. O verdadeiro propósito de aprofundar-se em si mesmo, é encontrar lá o "self" que segundo Jung é o nosso centro mais profundo e que por isso mesmo nos faz transcender toda a realidade limitada que a estreita visão materialista nos impõe.
Os sonhos podem cumprir a função não de nos aprisionar, mas de nos libertar, mostrando que há a nossa volta uma realidade que é maior que nós mesmos, e que nos liga a tudo e a todos.
A noção de inconsciente de Jung não se limita a restos diurnos, o inconsciente em sua forma mais ampla é o gerador da "realidade", da consciência. Segundo o autor, o que chamamos de consciência é um ínfimo pedaço do grande inconsciente que conseguimos assimilar.
A unica questão levantada pelo filme que me chamou a atenção, foi o fato de considerar a possibilidade de que na verdade o nosso mundo possa ser apenas um sonho, uma ilusão. é uma idéia que está no ar e que já foi muito melhor trabalhada em filmes como Matrix. Em Matrix trabalhou-se a noção de "maia", o mundo de ilusão do qual temos que nos libertar para chegar a verdade, é baseado na transcendência espiritual, enquanto A Origem é baseado no caminho que leva a psicose.
Mas os efeitos especiais são bem legais...
Beijos.

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