terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Psicólogos e costureiros

Desde o ano passado quero falar a respeito de um assunto que foi trazido por uma jovem paciente. Ela foi comprar um vestido e quando entrou na loja pediu para experimentar um tamanho P, que seria  mais aproximadamente adequado ao seu físico. Para a sua surpresa a vendedora disse que era tamanho único. Entrou entrou entrou, não entrou paciência.
O que a loja oferecia era um absurdo reflexo do que vivemos hoje em quase todos os sentidos. Me lembrei imediatamente de minha avó, que era uma costureira de vestidos de noiva, ou seja, fazia de tudo. Ela me ensinou  a respeito de cada medida do corpo que se precisava tirar antes de começar a cortar uma roupa. Que além das obvias como cintura e quadris, tínhamos que ver se a pessoa tinha seios fartos para dar pregas mais ou menos profundas, pernas ligeiramente mais curtas e ombros caídos deveriam ser levados em conta para que a roupa assentasse bem e acolhesse o ser humano que iria vesti-la.
Com o tempo as roupas passaram a ser cada vez mais feitas em série, e nem por isso ficaram mais baratas, muito pelo contrário. Lojas chiquérrimas cobram caríssimo para que você tenha o privilégio de sair por ai desfilando e mostrando você cabe no estilo da marca tal. Sim, você tem que se adequar ao corpo de manequins irreais que assustam muitas pessoas só de passar na frente da vitrine. As roupas não são feitas para o seu perfil, você tem que se encaixar no perfil das lojas...
É um reflexo da negação da pessoa enquanto indivíduo, enquanto ser humano, que embora tenha um tanto de coisas parecidas com tantos outros, por outros lado é parecido ao seu modo.
Nessa onda muitas teorias psicológicas foram criadas na tentativa de colocar os seres humanos dentro de um mesmo molde, como se todos fossem responder as fórmulas comportamentais e pílulas milagrosas da mesma maneira. 
Cada vez mais admiro a atitude de Jung, que não queria que suas idéias fossem chamadas de teorias, e que embora dissesse que haviam estruturas psicológicas comum a todas as pessoas, o modo que cada um as trabalhava era um imenso mistério particular ao qual o analista tinha que se debruçar, usando todo o seu conhecimento e ao mesmo tempo colocando-o de lado para ouvir realmente.

Um comentário:

  1. As funcionárias das lojas são treinadas para, sem falar nada q possa comprometer as marcas, usar a linguagem corporal para que o comprador se sinta mal, caso a roupa não caia bem nele.
    Sei de uma conhecida vítima de anorexia, que antes de ter alta do tratamento foi num shopping experimentar roupas junto com uma psi, para aprender a decifrar essas mensagens opressivas e a lidar com isso.
    E para além das pessoas comuns com suas diferenças de forma, tamanho e proporção, aquelas acima do peso, ou as senhoras de mais idade ficam restritas ao ridículo de uma roupa sempre justa, marcando, mostrando as dobras.
    Como a possibilidade de ganhar dinheiro vendendo roupas boas e com modelagem variada pode ser menos atrativo do que ter sua marca associada à magreza (vulgo beleza)???

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