sábado, 6 de fevereiro de 2010

Deus Pai.

Jung foi um dos poucos pensadores a perceber que a psique humana assim como tudo na natureza funciona de modo polarizado. Somos sempre regidos pela tensão que estabelece entre os opostos, tendendo para um lado, para o outro, e sempre buscando o equilíbrio.
Os opostos complementares são: masculino e feminino, alto e baixo, mal e bem e assim por diante. Via que somente com o conhecimento da sombra se poderia saber o que é a luz, logo, os opostos considerados negativos também são essenciais e intrínsecos ao desenvolvimento do mundo humano. Mas o universo polarizado não é uma coisa muito fácil de compreender.
Certa vez Jung recebeu uma carta de um leitor que em suma dizia que Jung complicava muito a noção de Deus, que não era preciso pensar tanto e tecer tantas elucubrações, pois afinal de contas tudo se resumia a verdade: “Deus é Amor”.
Obviamente este simplismo enervou Jung, justo ele que tanto tempo dedicara – a vida toda – a compreensão de Deus, indo contra a fé cega de seu pai, um pastor, acreditando que só é possível entender realmente a existência de uma força maior através do conhecimento, da gnose. O que o fez proferir mediante a pergunta “O senhor acredita em Deus?” a celebre afirmação “Não. Eu sei de Deus”.
O leitor que enviou a carta dizendo que Deus é amor, não estava errado, é claro que Deus é amor. Porem, o que você compreende como amor de Deus? O Amor é o supremo bem, sim. Mas o supremo bem também é a suprema justiça, e a justiça nem sempre se evidencia em atos benevolentes. Afinal de contas onde estaria Deus naquela hora em que mais precisávamos e nos sentimos abandonados e injustiçados?
Uma paciente me fez esta pergunta esta semana e eu me lembrei que como costumamos denominar Deus como o Pai, o melhor exemplo seria justamente o de um pai amoroso.
Como bem sabemos em psicologia, o pai costuma ser aquele que coloca os limites, e não apenas impede as frustrações. Quando uma criança em nome da educação recebe o limite, ou seja, a frustração de seus desejos e expectativas, costuma se irritar, achar que o pai foi injusto, quiçá um monstro! Podendo proferir a terrível frase “Eu te odeio”. A criança se aborrece por julgar o pai apenas com a sua visa o de mundo, acreditando que pode compreendê-lo. Mas obviamente não pode... Apenas quando cresce, e consegue ter uma visão mais vasta pode finalmente enxergar que ele queria o seu bem, e que nunca deixou de amá-la.
Qual será mesmo a nossa idade?

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