domingo, 26 de julho de 2009

Terror noturno.

O terror noturno é um fenômeno que acomete algumas crianças durante a noite. As suas principais características são o despertar repentino durante a noite acompanhado de gritos e um grande sentimento de medo e pavor, como se a criança estivesse despertado de um terrível pesadelo. Algumas não conseguem mais dormir, outras, podem voltar a adormecer e no dia seguinte sequer lembrarem-se do ocorrido. E a criança não e a única afetada por este distúrbio misterioso, a família inteira pode sofrer efeitos colaterais, principalmente os pais. Alem do stress provocado pelo sofrimento do filho, grande parte tem seu rendimento profissional ameaçado pelas noites mal dormidas, e não raramente problemas no relacionamento conjugal.
Embora existam algumas teorias psicológicas e biológicas a respeito das causas do terror noturno, a verdade e que sua origem continua envolta em mistério. Na minha concepção de psique humana, que os leitores do blog sabem serem baseadas em C. G. Jung, as crianças acometidas por este distúrbio possuem alguma forma de contato com a sombra existente no inconsciente. Esta sombra pode ser a existente no nível do inconsciente pessoal e, ou, no inconsciente coletivo, o que vai depender da historia da vida de cada criança, seu grau de sensibilidade e etc. O que importa é que à noite a consciência se encontra em estado de repouso, e reina o mundo maior e mais vasto do inconsciente, morada de elementos tanto negativos quanto positivos dos quais não temos conhecimento no estado de vigilia, vem à tona. E quanto mais reprimidos forem os conteúdos negativos da psique, com mais força eles podem se manifestar assim que aparece a oportunidade, e a noite e uma das melhores oportunidades. Principalmente quando o terror noturno se dá pelo contato com os conteúdos da sombra nos limites do inconsciente pessoal, podemos voltar para a investigação dos medos da criança, trazendo gradativamente para a consciência os medos ocultos, o que na maioria das vezes irá requerer a ajuda de um profissional especializado. Mas prestar atenção nos desenhos de uma criança e estimulá-la a expressar o que eventualmente possa ser reconhecido como causa de ansiedade pode ser um bom caminho.
Devo também apontar que quando a família possui algum direcionamento espiritual ou religioso no qual a criança perceba a existência da luz que se sobrepõe as trevas, pode funcionar como um importante apoio para reforçar a psique e a aumentar a capacidade de vencer e, ou, afastar as causas da ansiedade. Como se pode perceber na citação de Jung acima, o estudo da psique não é necessariamente uma ciência que exclua o sagrado. Segundo ele, o rompimento com o sagrado e com o mundo do inconsciente que o carrega, provocam muitos dos problemas psicológicos da atualidade, o que a meu ver pode também incluir o terror noturno.
Nesta postagem estou apenas expondo alguns pontos do meu pensamento a respeito deste assunto, que é um tanto vasto e pode ter vários desdobramentos. Me coloco a disposição dos que desejarem saber mais alguma coisa na qual possa ajudar, é só escrever.

sábado, 25 de julho de 2009

"Conhece a ti mesmo"

Vez ou outra escuto pessoas dizendo que elas fazem análise para se sentir bem e que esse papo de sair da análise pior do que entrou é indício de que a terapia não vai lá bem das pernas.
Nessas horas fico pensando que tipo de concepção é essa e, por vezes, entendo tal perpectiva como um sintoma social contemporâneo.
A propaganda do cartão de crédito diz que felicidade não tem preço. Não?
O que não tem preço, não tem valor. É a desvalorização humana que está em jogo. Para todas as outras coisas, o cartão compra.
E assim, embalado por toda espécie de ilusão, pacientes chegam acreditando que estão alí para obterem prazer, carentes por reforço egóico do tipo: "Você é o máximo, você é lindo". Não sabem, entretanto, que uma das grandes problemáticas atuais é o rotineiro encontro com sujeitos mergulhados até o pescoço no Ego, inflacionados em si mesmos, melindrosos na lida cotidiana, enfim, pessoas que acreditam que o outro (e aí o psicólogo entra na seqüência) deve dizer o que eles querem ouvir no mais íntimo do seu ser.
E o que a análise faz? Desintegra, na base, o castelo de areia de cada um, como quem encontra, na pedra bruta, a preciosidade que nela jaz.
O cogito "conhece a ti mesmo" incluía uma cara de alegre?
Sair do "narcisimo das pequenas causas" dói. E isso inclui, para os que estão ligado em aparências, em sair da sessão "pior" do que entrou mesmo, não só uma, mas muitas, muitas vezes.
Obviamente, que isso não é uma constante, ou seja, não se sai só assim, mas na justa medida em que o ser humano também não é somente sofrimento.
Também há sessões em que o sujeito se diz mais feliz, mas, lembremos, isso não é benevolência do terapeuta. Isso é conquista do paciente.
Então, ficamos combinados: do sintomal ao sinto bem, sinto muito, mas a verdade não usa cílios postiços.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Na inversão insana de valores, as pessoas mais respeitáveis são as mais capazes de despertar inveja.

Estes dias andei pensando que existe outro sentimento semelhante ao ciúme - e tão devastador quanto - que costuma ser equivocada e prazerosamente plantado no coração alheio: a inveja. Conscientemente todos costumam condenar os invejosos, ensinam as crianças a reprimir tal sentimento e as pessoas que o carregam são (com toda razão) temidas como pássaros de mau agouro, portadoras de olho gordo, seca pimenteira e outros adjetivos afins. Mas idiossincraticamente, muitas das pessoas que condenam a inveja gostam de cultivá-la no coração alheio. É como se despertar a inveja dos outros mostrasse um status, confirmasse o merecedor da inveja como um ser superior possuidor de algo que a maioria deseja e não pode ter. Então para despertar a inveja ostenta-se o que tem (na melhor das hipóteses) e o que não se tem. E não se trata apenas da exibição de bens materiais como: casas, carros, contas bancárias, corpos sarados, silicones (seus ou de algum ser humano descartável adquirido na prateleira do mercado das vaidades), mas também de inteligência, bons relacionamentos, sabedoria e etc. Enfim tudo o que se pensa ter-se mais que a maioria dos reles mortais.
Pessoas realmente sábias e felizes não precisam estampar para o mundo inteiro o quanto são alegres e realizadas, elas simplesmente o são porque alem do que é imposto de fora, possuem o que almejaram segundo as suas inclinações internas mais profundas. Pessoas realmente sábias sabem o quanto é nociva a energia gerada pelo olho que inveja, que não se satisfaz enquanto não consumir e arrasar aquilo que acredita não poder ter. Pessoas realmente sábias afastam a inveja ao invés de atraí-la, procurando despertar: amor amizade e admiração sincera.
Por trás do desejo de despertar a inveja está a falta de uma virtude rara e difícil de conquistar: a humildade. Mas esta conversa fica para depois.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Michael ao morrer volta a ser humano.

Pois é, hoje faz uma semana do falecimento de Michael Jackson e só agora me ocorreu comentar o assunto, e o que há de espantoso nisto é justamente o só agora... Creio que com as manchetes de varias revistas dependuradas nas bancas de jornal de todo o mundo, inclusive do meu bairro, comecei a realizar que de fato isto havia acontecido: Michael Jackson morreu! Não que eu fosse uma grande fã, creio que ultimamente muito pelo contrário, mas porque na minha percepção ele já havia se afastado tanto da imagem e dos comportamentos considerados humanos, empenhando-se em não envelhecer, cristalizando-se como um boneco de resina, que no meu inconsciente ele havia perdido a mais humana das capacidades: a de morrer.
Michael para mim foi um Fausto que de bom grado cumpriu o seu contrato com Mefistófeles, dando a vida em troca de jamais envelhecer. Mas paradoxalmente, ao morrer, retornou ao mundo dos humanos, como uma redenção, lembrando a todos que nem sempre foi assim.
De fato foi alçado a símbolo, mas não apenas de símbolo do pop, mas símbolo do arquétipo da sombra que habita no interior de cada um de nós mesmos, e que não deve ser negligenciada, sob o risco de dominar toda a psique, que significa: alma.
A ele só me resta desejar Luz.