sábado, 28 de março de 2009

Física quântica, Jung e o retorno a criança original.


Há muito tempo os grandes saltos das teorias psicológicas caminham paralelamente aos avanços de outros campos do saber, em especial a física e suas concepções de mundo.Quando foi observada a “dualidade onda- partícula”, abriu-se espaço para um novo pensar a respeito de assuntos até então considerados meramente metafísicos e subjetivos, como a participação do ser humano no mundo que o rodeia.
Para os que ainda não conhecem este fenômeno, a dualidade onda- partícula se dá quando um objeto quântico apresenta características ora de partícula, ora de onda, dependendo de como “olhamos” para ela. A partícula se comportava como matéria quando observada pelo cientista, e como onda quando não olhada. O que torna esta descoberta notável é o caráter subjetivo do resultado do experimento: ele depende e é influenciado pela nossa escolha.
Com esta descoberta, foi impossível para as mentes mais aguçadas deixarem de se questionar quanto ao efeito que isto teria sobre a concepção de mente, do ser humano e de sua interação com o mundo. Estávamos diante do fato (já a muito contestado na psicologia) de que nem mesmo nas ciências naturais reside a mítica imparcialidade científica. E com isso veja o que encontramos! O ser humano não é um observador passivo, faz parte da natureza humana construir o mundo ao seu redor. Esta capacidade natural nos faz lembrar o conceito de Jung a respeito do Self, ou si mesmo, como o centro da psique ao qual devemos sempre procurar retornar através do processo de individuação, pois é lá que reside a força original intrínseca a todos nós, inclusive a possibilidade de reger nossa própria vida. Todo trabalho psicoterápico realmente profundo, se baseia na premissa de que para obter a cura precisamos nos ver como principais responsáveis pela situação em que nos encontramos, só assim haverá abertura para que algo realmente transformador possa surgir.
Apenas conceber o estado de vítima como antinatural pode explicar a devastação causada na vida das pessoas que se colocam nesta condição. Ser vitima é abrir Mão do direito e do dever de transformar a própria vida, atribuir aos fracassos a responsabilidade de outrem, sejam estes: familiares, patrões, governantes e etc. É o lugar “cômodo” e petrificante daquele que não se move, é estar fora do eixo, apartado do si mesmo.
Mas não fomos sempre assim, a noção de que tudo no mundo acontece a nossa revelia, é aprendida de forma tão eficiente que nos esquecemos do tempo em que quando crianças tínhamos aquela certeza de que tudo no mundo acontecia para nós e por nós. Quando crianças ainda nos sentimos naturalmente em harmonia e conexão com a fonte da sabedoria interior - e por isso mesmo superior - que nos traz o sentimento de ser e estar conectado a tudo e a todos. Com o passar do tempo vamos aprendendo, ou sendo levados a crer, que o mundo não existe por e para nós, e temos pouco ou nenhum controle sobre os acontecimentos. Todo o sentimento mágico de conexão com todos os eventos que nos rodeiam é reduzido a quase nada, e freqüentemente inacessível a memória. É o afastamento do si mesmo, removido pela concepção de mundo baseada no materialismo. Concepção esta completamente apartada do sagrado, onde tudo, inclusive a vida, acontece por mero acaso. O que segundo Jung é uma das grandes causas das neuroses atuais. Esta mentalidade que nasceu há centenas de anos ainda rege o pensamento de grande parte da nossa sociedade. O materialismo fatalístico vitimiza e coloca o homem longe da sua essência e de seu poder, priva-o da participação com todos os elementos do universo, reduzindo-o a um objeto a deriva em um mar de incertezas. A vida passa a ser vivida como uma sucessão de acontecimentos fortuitos que nos acometem aos desordenados borbotões. E essa impossibilidade pouco tem a ver com a noção de destino, e sim com a noção de falta de sentido. Aprendemos que na verdade somos espectadores passivos, no máximo reativos ao que acontece ao nosso redor. O que faz com que seja perfeitamente normal a disseminação do sentimento de vitima, que acomete 9 entre 10 pacientes que adentram nos consultórios, gerando a sensação de incapacidade e baixa auto estima.
Quando empreendemos o processo de individuação como definido por Jung, inevitavelmente iniciamos um retorno ao sentimento de conexão que cresce na medida em que nos aproximamos do si mesmo, o eixo da psique que nos permite acessar a realidade até então inconsciente. Munidos da maturidade acumulada pelos anos, podemos fazer uma releitura daquele sentimento primordial, como a subida da espiral que passa pelo mesmo lugar em uma posição mais alta, resgatando a profunda verdade existente na primeira infância de forma mais consciente. Esta é a essência de retorno a criança original.
Quem tiver olhos para ver que veja...

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