Pai-descendo no paraíso
O silêncio sereno se estendera aos vários dias da semana para que, de braços abertos, ela recebesse a Sexta-Feira Santa.
Cabelos ao vento, vôos de pensamento, lembrou da história da humanidade personificada em Adão e Eva. E foi assim, remontando a si mesma, que foi levada, naquele dia, a desnudar-se internamente e emudecer-se para os de fora.
Com a coragem própria de quem se esvazia buscou, no coração de seu ser, sua sombra.
De olhos abertos, reconheceu velhos fantasmas, todos pertencentes àquele sortimento de sensações que experimentava e que, subitamente, apresentava-se também como EU.
Observando cuidadosamente as cenas que sucediam ao seu redor, compreendeu que só poderia entendê-las pelo ponto de vista próprio e singular daquela existência que, investida de um corpo, quase transbordara ali mesmo.
Então, com os olhos rasos d'água, amigavelmente acompanhada por um dia chuvoso, pôs-se a reconciliar com tudo aquilo que expurgara de si ao ponto de denominá-lo de outro.
"Pai Nosso que estás no céu..."
Equacionou aparências:
"Pai Nosso que estás no eu..."
Deitou, dormiu fletida e acordou em um Domingo de Páscoa, parida por uma manhã, dividindo essas palavras com todos aqueles que, companheiros de viagem, viram, nesse relato, um porto e um pouco de si.
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