quarta-feira, 28 de outubro de 2009

No olhar do outro podemos nos perder, mas também nos encontrar.

Jung colocou o processo de individuação como meta do desenvolvimento psíquico, um caminho que tem começo mas não um fim, até o ultimo suspiro ele pode estar em andamento. O processo de individuação é erroneamente confundido com algo individualista e isolado, significa voltar-se mais para o si mesmo (Self), conhece-se e descobrir-se tanto em aptidões e qualidades quanto em imperfeições a serem aprimoradas, deixando que revelemos a nós e ao mundo quem realmente somos e a que viemos. Mas o mergulho no si mesmo só pode se dar com o encontro com o outro. Sem o outro não temos como penetrar em nós mesmos, a partir de nossas relações e reações com o próximo é que nos revelamos.
De fato o olhar alheio pode escravizar, quando queremos atender as expectativas ditadas por alguém ou pela mídia, sociedade e etc, no anseio de ser amado a todo custo, o que acaba bloqueando a ponte para o Self. Mas o olhar do outro pode nos dar a possibilidade de encarar nosso próprio reflexo, e os oçhos que refletem não são os olhos frios e distantes, são justamente os olhos mais próximos, mais amados, mais geradores de atritos e afetos, estes podem ser a ponte para dentro de nós mesmos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Culpa e castigo

Hoje chegou aos meus ouvidos o fato de que uma pessoa virou-se para a outra e a culpou-a por certa (ou errada) situação que estava passando na vida. A segunda pessoa apenas ficou em silencio. Ouvir aquilo deveria ser um castigo...
É incrível como mesmo pessoas que racionalmente sabem que são elas próprias as responsáveis por suas colheitas, em momentos de angústia voltem aos velhos padrões de encontrar alguém em quem depositar o peso das suas escolhas erradas. A responsabilidade é às vezes um fardo muito grande para carregar sozinho. Mas o mais incrível é que sem ela não se anda.

domingo, 25 de outubro de 2009

Divina inspiração

(Conversa entre mães em aniversário infantil)

"Minha filha, dia desses, chegou em casa, angustiada, perguntando quando eu ia morrer, já que ouviu um papo de morte da avó de um coleguinha na escola" - Disse uma delas.

"E o que você responde numa hora dessas?" - Perguntou a outra, já aflita.

"Ah, simples. Disse que eu só iria morrer quando parasse de viver" - Respondeu a primeira.

Moral da história: se você, leitor, admira algum filósofo é porque não teve a oportunidade de conhecer a mãe dele.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Aprimoramento

Observando a natureza e buscando conhecimento, entendi, um pouco, do como é bom saber-me última em algumas situações. Porque a vida não é tão linear assim, e o lugar também depende do observador.
Então, venho aprendendo com quem vai na frente, a fim de ser uma pessoa mais aperfeiçoada quando chegar a minha vez... de dizer, de aparecer, de efetivamente somar.
Posso, assim, entender aquele outro, que sempre quer ser o primeiro a se colocar, como uma pessoa generosa, pois, abrindo mão da possibilidade de manifestar-se posteriormente, dá-me a oportunidade de burilar o que ele diz e incrementar meu raciocínio.
Tudo tem sua serventia.
Eu já quis, muitas vezes, ser a primeira, como a semente que traz a potencialidade no gérmem de sua manifestação.
Eu já quis ser-mente.
Hoje em dia, meu tempo é outro.
Eu quero mesmo é ser flor.




"E um vaga-lume lanterneiro
que riscou um psiu de luz"

Guimarães Rosa
Eco
Escrever, aqui e acolá, é compartilhar com o outro do que penso e também ratificar, organizar e esclarecer-me, pois falo primeiro para mim mesma e, às vezes, reverbero no outro.
Quando chega aí, é eco de si, dádiva, gracejo n'alma.
Quando chega aqui, aquiessência de ser,
Aqui, essência de ser.

domingo, 18 de outubro de 2009

Os limites de cada um.

Limites. Esta semana que passou eles se apresentaram em diversos matizes, os meus, os dos outros e os nosso.
Limites que temos que dar, limites que temos que superar e limites que temos que respeitar. E todos não são fáceis de estabelecer e colocar em prática. E pensando a respeito do assunto descobri que ele está estreitamente ligado ao amor, amor ao próximo e amor a si mesmo.
Existem limites que precisam ser construídos:
As pessoas que facilmente se deixam invadir pelos outros costumam invadir o limite alheio. Abrem mão de existirem enquanto ser e negam ao outro este direito acusando-o de negligencia e caminhando no sentido oposto ao processo de individuação.
Estabelecer limites aos filhos é uma questão de amor, porque da muito trabalho e nos expõe a reclamações e o difícil manejo da rejeição, do não ser amado por alguns momentos, e em nome do desejo de ser amado, falta o amor a criança em formação, que precisa que tenhamos resistência para dar o parâmetro. E quais são mesmo os nossos parâmetros??? Ah! Temos que descobri-los quase que diariamente.
Existem os limites que precisam ser superados:
As pessoas que apontam os limites alheios a serem superados como fraquezas, têm dificuldade de se colocar no lugar do outro e não obstante cuidam pouco de enxergar e empreender suas próprias superações.
Para nos colocarmos no lugar de compreender o limite alheio, basta nos lembrarmos de alguma passagem em nossas vidas as quais pareciam banalidades para os outros, mas para nós eram verdadeiros muros de Berlim a serem demolidos, coisas como:nadar, dirigir, andar de bicicleta, pegar um avião, amar, se doar, forças para recomeçar... Mas apenas compreender o limite do outro não é sinônimo de amor, amor mesmo é ajudá-los a superá-los, e deixarmos que quem possa nos ajude a superar os nossos também.

domingo, 11 de outubro de 2009

Pensando em Amor.

Estes dias tenho ouvido bastante as pessoas falarem a respeito do Amor. Na verdade é muito comum as pessoas falarem em Amor. Juram que o desejam, lamentam que não o possuam, afirmam que estão amando, dizem que não acreditam nele, que o temem e etc.
Mas quando procuramos Amor, desejamos e pensamos em algo mais sublime, absoluto, puro e Instintivamente o procuramos, pois algo nos diz que precisamos dele para viver. Mas quase sempre o procuramos nas pessoas.
Porém o ser humano, justo por ser humano, ainda não é puro, e o amor pode surgir em meio a toda uma gama de sentimentos controversos como: ciúme, possessividade, carência e ser confundido com estes. Isto pode levar algumas pessoas a amargamente dizerem que não acreditam no Amor, quando na verdade no que não acreditam é na capacidade do ser humano de amar. E assim se fecham. E o Amor passa a ser vinculado ao sofrimento e a desilusão. Será? O Amor em si não fere, apenas as pessoas traem umas as outras, por falta e não por excesso de amor. O verdadeiro Amor inspira o compromisso e o respeito. O Amor verdadeiro impele a doação e não o consumo do outro.
Talvez a origem de tantas decepções seja o fato acreditar no Amor como algo gerado e pertencente unicamente à natureza humana, e que, por conseguinte faz com que seja exigido do outro a doação de Amor suficiente para nos manter vivos. Damos, mas sempre querendo em troca, e o verdadeiro Amor não é moeda.
O Amor em si, como sentimento que move o mundo é algo que transcende todas as nossas fraquezas e limitações, sua fonte é outra. O Amor se assemelha ao mito da caverna de Platão,se aproxima da noção de arquétipo, daquilo que é perfeito e do qual por mais que nos aproximemos ainda por sermos humanos não somos capazes de captar e refletir a sua totalidade divina e perfeita. Somos como espelhos que quanto mais embaçados por vícios e sentimentos torpes, menos seremos capazes de refletir-lo. Desejamos muitas vezes receber Amor, mas nem todos se preocupam em preparar-se para transmitir Amor.
Quem não acredita que na vida exista algo que transcenda a nossa limitada compreensão, ainda não poderá vislumbrar a realidade do Amor. Quando vislumbramos sua fonte real e inesgotável, estamos prontos para compreender a oração de São Francisco “é dando que se recebe”. A quantidade de amor que se tem não é a que se recebe, mas a que se é capaz de captar e transmitir. Logo nos libertamos, pois assim fica claro que o Amor não é posse, não possuímos o Amor e nem mesmo a pessoa amada, o Amor é algo que vai muito além da nossa van imaginação, é ele quem nos possui, quando a ele nos entregamos.
Em suma, o amor é sublime e simples, mas algumas vezes a nossa complicação não nos deixa amar o que há.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Inteligências Múltiplas ou Variedade de Equívocos

Muito se tem falado em inteligência múltipla.
Aquele aluno não se adapta bem em tal escola por que tem baixa desenvoltura cognitiva, porém, grande inteligência artística, musical. O outro tem uma grande desenvoltura nas aulas de Educação Física, mas é um horror em todas as outras disciplinas. É que ele tem uma grande inteligência físico-motora, um verdadeiro atleta.
Já aquele, coitado, é um excelente aluno, quase um gênio, mas com uma baixíssima inteligência emocional frente à resolução de conflitos com os colegas. Vive se metendo em confusão.
O que dizer dessa novidade de mercado que diz que temos tantas inteligências quanto nossa inteligente capacidade de criá-las?
Que inteligência é uma só.
No entanto, ela aparece, enquanto fenômeno, de muitas maneiras.
Uma breve viagem no tempo pode nos propiciar uma constatação inequívoca do que acabo de dizer. Vejamos, portanto, Leonardo da Vinci. Pintor, escultor, arquiteto, matemático, visionário.
Quantos advogados, poetas, filósofos, médicos, tudo em uma só pessoa, já existiam há centenas de anos? Alguém falava em inteligências múltiplas?
Acontece que vivemos ainda sob a propagação dos efeitos positivistas em nossa cultura. O homem ainda é compreendido de forma segmentada, tal qual o mecanicismo industrial que faz de um automóvel, uma junção de peças.
Então, movidos por uma espécie de pseudo-caridade, susbtituem segregação social por segmentação de inteligências e levantam a bandeira da inclusão e democratização do ensino. Mas na hora do vestibular...
Tudo bem, vamos dividir, desde que ninguém saia do domínio de quem efetivamente manda...
Por um acaso, quando sou convidado para uma festa e como uma fatia de bolo, passo, automaticamente, à condição de aniversariante?
Desculpem-me, mas, para esse engodo, eu não vou bater palminha.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Titanic

Estive pensando no quanto a análise redutiva dos sonhos, realizada por Freud, pode ser útil para alguns casos clínicos. Sobretudo quando nos deparamos com sujeitos cujo ego está excessivamente investido, ou seja, pessoas que se acham "donas do mundo", da "verdade".
É que a redução proposta pelo pensamento freudiano aguça o senso crítico, reduzindo o sujeito aos conflitos primordiais que acompanham a humanidade há muito tempo.
Assim, saber que toda aquela construção fantástica do inconsciente, produzida, por sua vez, por aquela pessoa que igualmente se acha fantástica, retrata um conflito infantil vivido com o pai, pode ser de grande utilidade terapêutica, uma vez que propicia uma retificação na economia da dinâmica psíquica.
Então, a redução egóica pode levar a um incremento energético rumo ao Self, esse, sim, morada da singularidade e do encontro profundo consigo próprio.
Para tanto, valho-me da cena de Leonardo di Caprio no filme Titanic, quando seu personagem dizia de braços abertos, meio pássaro, meio Jesus na Cruz: "I'm the king of the world".
Pois é, não foi à toa que o navio afundou...